QUALQUER DIA DEPOIS DE AMANHÃ

Qualquer dia depois de amanhã

A liberdade será maior que o poder

de todos os governos possíveis.

As ruas estarão sempre em festa

e a natureza vestirá nossos corpos

com o sabor de todos os encontros.

Qualquer saber devirá poesia

no cotidiano de qualquer alegria.

Qualquer dia depois de amanhã

hoje não será qualquer dia....

A MISERIA DO CONFORMISMO

Seguimos entre a angústia e a norma

Em calmo desespero.

Acreditamos na ciência,

No progresso e nos deuses,

Mas duvidamos de nós  mesmos,

Do possível dos nossos corpos.

 É tanto poder e dinheiro

Contra nossa vontade de  liberdade

Que aprendemos a sobreviver

Como covardes

E bem viver como escravos.

Tudo em nós  se tornou medíocre.

O PRESIDENTE E A PRESIDÊNCIA

O desgaste,  cada vez maior, do ignóbil Jair Bolsonaro deixa claro que a instituição Presidência da República, apesar de todo seu desgaste, não é ocupável por qualquer zé ninguém. Ela mantem alguns protocolos republicanos, exige para sua manutenção um mínimo de decência institucional que, quando ofendida, se volta contra o ocupante do cargo. Não é   permitido ao ocupante extrapolar sem consequências os limites do admissível em uma democracia;  pratica, diga-se de passagem, recorrente do imbecil eleito. Em outros termos, não  seria descabido afirmar que somos todos vítimas de um governo de brinquedo.

A VERDADE DO CARNAVAL

A desordem como norma do carnaval insinua a sociedade pelo avesso. Estabelece a desmedida como principio de um prazer efêmero contra as grades da prisão do trabalho, da ordem e dos abusos da moral e da razão.

O carnaval não é propriamente uma forma de diversão. É um modo de fuga, de sequestro e desmedida. Ele é a nudez da normalidade, nossa falta de limite, nossa indecência revelada sem qualquer pudor.

O carnaval é o que somos sem máscaras....

O NÃO LUGAR DA FAVELA

A favela esta em todas as partes,

É  um estado de exclusão 

Que perpassa toda sociedade.

A periferia coincide com o Centro,

É  sua própria essência.

A favela é  nossa condição  de existência,

Nosso cativeiro diário,

Mas persiste,

Acima do bem e do mal.

APATRIADO

Não quero lugar a sombra das desgraça nacionais.

Prefiro viver apatriado em minha imaginação

guardando o sonho de algum futuro egoísta

despido de qualquer ridículo patriotismo.

Quero distância dos que se vestem de verde e amarelo,

dos que sonham nacionalismos e autoritarismos.

O BRASIL COMO ESTADO MENTAL

O Brasil não é um lugar,

mas um estado mental anormal,

inatural, inatual e imoral,

perdido no tempo atual do mundo.

Algo só possível no sul deste continente infernal tropical e imundo

onde todas as patologias da modernidade

encontraram na indigestão da Europa

sua forma mais absurda.

DECRETOS

Os decretos no diário oficial

normatizam um mundo que não existe

mas que  define  nossa realidade.

Intenções obscuras quase sempre regem os decretos.

Por isso imagino um bacanal verbal escondido

no fundo do texto formal dos atos do executivo.

A IMPORTÂNCIA POLÍTICA DO ESPANTO

O espanto é um instinto politico que nos afasta do conformismo e do sedentarismo da manada. Através dele nos posicionamos frente os horrores do tempo presente. 

Quando coletivamente perdemos a capacidade de nos espantar, nos adequamos ao absurdo geral e naturalizamos o inaceitável como moeda corrente em nosso cotidiano afetivo e existencial.  

ROUPA VELHA

Botei algumas ideias velhas para lavar.

Estavam sujas de tempo.

A maioria rasgou no arame do pensamento,

não suportando a critica do presente.

O passado,já dizia Belchior,
é uma roupa que não nos serve mais.

POLÍTICA E CONTRA CULTURA

A confiança teleológica na emancipação popular

não transforma o mundo,

não inventa o novo.

Apenas fortalece o Estado e o partido único
de nossa falida sociedade pós industrial

contra  qualquer mudança possível e existencial.

A indeterminação e o conflito

deve, ao contrario,

servir de combustível a euforia transgressora

do coro dos desajustados,
ao esforço desconjuntado das flores de asfalto.

Somente a sensibilidade de uma nova estética da existência

pode produzir um outro tempo

contra nossas micro patologias cotidianas,
nossa fome de modernismos retrógrados.

Só a  composição das multidões e singularidades

conduz a novos entendimentos e primaveras,

 a transcendência do tédio e dos limites
do aqui e agora na dança dos girassóis!

.

A PRIVATIZAÇÃO DA POLÍTICA

Os “políticos” geralmente  tratam a politica como profissão. Tornam o desfrute de um cargo legislativo ou executivo um negócio de família ao longo de sucessivos mandatos. O Estado para eles é um conjunto de feudos, domínios que devem  ser repartidos entre os senhores ungidos pelo sufrágio universal. Do mesmo modo, o exercício do poder é visto como monopólio de uma elite privilegiada.  

Todo esse esquema oligárquico tem o verniz de democracia visto que é mantido pela vontade expressa pela maioria dos eleitores através do voto. Mas a verdade é que os donos do poder perseguem apenas interesses corporativos. Não há verdade mais elementar e desprezível. Mesmo assim tal conhecimento não afeta a resignação e mansidão dos eleitores que a cada nova eleição renova sua servidão, mesmo sem acreditar ou esperar muito dos profissionais do poder.

EGOISMO UNIVERSAL

O conformismo é  coletivo,

A rebeldia é  social,

Mas o egoísmo é  universal.

Quando a sociedade desfalece,

tenho medo dos que têm razão,

Dos egoístas organizados
e suas rebeliões conformistas.

BRASIL : PAÍS SEM FUTURO

A eterna crise econômica e política nacional fez da possibilidade de deixar o país  um ideal de sobrevivência. 

Entre os jovens de hoje  não são  poucos que desejam buscar uma vida nova no estrangeiro. Estão  convictos de que o Brasil é  um país sem futuro. O ufanismo da grande nação que vai pra frente , gigante pela própria natureza , já não  engana mais ninguém. 

O Brasil é  um país elitista, miserável e conservador até  a medula. Um lugar medíocre onde a maioria  nasce condenada ao fracasso. Um fracasso pessoal e coletivo que traduz a falência de um projeto de nação  baseado em um eterno improviso politico institucional.