R.I.P. PELÉ

O habito de se referir a Pelé na terceira pessoa mostra o quanto Edson Arantes do Nascimento tinha consciência da enorme distancia que separava o jogador do indivíduo. Mesmo que objetivamente fossem considerados uma única pessoa, o primeiro era uma entidade, um mito. O  segundo, um homem banal e sem qualidades indigno do próprio sucesso. Ao longo dos anos , não foram poucas as atitudes e opiniões do Sr. Edson Arantes que despertaram a indignação de muitos dos admirados de Pelé. Por outro lado, não é novidade o fato de que jogador brasileiro, com raras exceções, é um sujeito que se orgulha de ser burro e intelectualmente limitado. Coisa que os aproxima da grande maioria dos aficionados pelo esporte bretão. Por mais antipático que seja dizer isso, a morte de Edson Arantes do Nascimento foi apenas mais uma morte na banalidade do morrer cotidiano. Todo mundo morre. Muitos sem receber atendimento na sala de espera dos hospitais públicos. Situação bem diferente da do St. Edson.

 Quanto ao Pelé, um mito não morre e nem envelhece. Indiferente ao futebol, escrevo estas linhas sem compartilhar da comoção global pela morte do sr. Edson e sem me identificar com o Brasil que ele representa.

DELINQUÊNCIA APÁTRIA

Fui parido e educado

para ser e viver como um  animal de circo e picadeiro.

Mas nunca acreditei,

e sempre repudiei pátrias,

 exercícios,

  Estados e bandeiras.

Desde sempre quiz ser livre

e resisti a todos os cabestros.

Nunca me conformei ao destino

que me tentaram impor.

Estava eu predestinado

ao heroísmo de ser marginal e atrevido,

de existir torto e persistir mal educado.

CONSERVADORISMO FUNCIONAL

As situações que nos definem

 Como entidades unas e continuadas, 

Condicionadas a tantas rotinas compartilhadas,

 São vazias de proposito e perpetuadas por simples inercia. 

Elas só sobrevivem porque a maioria de nós odeia mudanças

 e não suporta o desabrigo de situações amorfas e dispersas

  ou o desassossego de condições novas e incertas. 

Somos uma sociedade de covardes,

 de medíocres.

 Vivemos como pássaros amantes de gaiolas que sofrem vertigens

só de  imaginar a aventura da liberdade

 da imensidão de um céu  aberto em azul.

DESOBEDIÊNCIA CIVIL

Rebelar-se exige coragem,

uma imensa dose 

de generosidade e boa vontade.

Mas, acima de tudo,

pressupõe a ousadia

de colocar-se em risco,

de desafiar toda autoridade

e verdade estabelecida,

até que a própria existência

se torne um intenso exercício de desobediência.

Rebelar-se é fazer de si mesmo um outro,

Um caos e uma máquina de guerra,

afirmar contra o Estado 

a potência da  multidão

e a liberdade que nasce da ação direta.

OS ULTIMOS DIAS DO DESGOVERNO BOLSONARO

O melancólico fim do desgoverno Bozonauro está longe de resolver a crise política que se define, não é de hoje, pela falência do atual sistema político e, consequentemente, como uma crise da própria república.

O caráter oligárquico e elitista da "democracia" brasileira torna o autoritarismo corriqueiro já que o regime reflete a brutal desigualdade de nossa sociedade e o arbítrio que sempre definiu o jogo do poder.

Parcela considerável da população não espera grandes novidades do novo governo e nem considera grave os calamitosos últimos quatro anos de desgoverno da extrema direita. No fundo, para tal maioria, entra e sai governo e a minoria de sempre determina os rumos de nossa perpétua tragédia nacional. 

Mesmo assim, seria saudável se Bozonauro fosse responsabilizado pelos seus tantos atos criminosos a frente do executivo junto com alguns de seus ministros. Mesmo que o sistema jurídico não seja feito para punir políticos e ricos em geral e sim para perpetuar seus crimes. Mesmo que o rigor da lei não exista para os criminosos de terno e gravata que desfrutam da intimidade e camaradagem de seus juízes .

CONGRESSO NACIONAL= ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA

As chamadas imendas de relator, vulgarmente conhecida como "orçamento secreto", que sustentaram a governabilidade do governo Bozo, institucionalizando o mais descarado fisiologismo eleitoreiro e uso arbitrário de verbas publicas já patrocinada pelo poder legislativo, sob o aval presidencial, não serão superadas por sua inconstitucionalidade decretada pelo STF. 

Bem sabemos que os parlamentares brasileiros agem como uma astuta máfia, muito competente quando o assunto é manter seus privilégios e perpetuar falcatruas sob qualquer governo que deles depende para governar.

A corrupção sempre está na ordem do dia do congresso nacional e na agenda do executivo da vez.

Como dizia Bezerra da Silva: se gritar pega ladrão, não fica um meu irmão.

Político no Brasil não tem vergonha de roubar.

A FUTILIDADE É MÃE DA ALEGRIA

As pessoas parecem felizes,

apesar da carestia,

da violência,

dos políticos corruptos,

Dos hospitais em colápso,

de nossa falta de educação,

e, principalmente,

da saudade dos que morreram  cedo.

Sim. As pessoas parecem felizes,

sorrindo de tudo,

como se o dia estivesse perfeito.

O segredo é não pensar em nada,

não saber de nada,

e viver indiferente a tudo que nos reduz a nada.

O segredo de tudo,

é, simplesmente, o nada.

Então não se importe,

Não queira nada,

e sorria ao vazio

de uma vida tão sem graça.

CONTRA O NACIONALISMO

Meus pés não reconhecem a prisão

de qualquer estado nação.

Meu chão não tem fronteiras,

como não tem limites

minha imaginação.

Infinita é minha necessidade de ser livre 

e plenamente existir

contra bandeiras e burocracias.

Minha casa é sempre onde estou

no efêmero acontecer do meu aqui e agora.

Onde quer que vá respirarei iberdade.

CONTRA TODA AUTORIDADE!

Toda autoridade é asquerosa,

uma bem sucedida mentira

que pelo cabestro da fé 

diminui quem lhe reverência 

em miserável exercício de covardia e idolatria.

Morte ao rei, presidente  ou primeiro ministro!

Abaixo os privilégios dos bem nascidos!

que morram todos!

Que seja autônomo o povo!

Longa vida a revolta,

a raiva,

e a rebelião de qualquer bestial multidão

que sirva de alma as nossas ruas

tão maltratadas.

Toda baderna é bem vinda,

Pois a ordem atual

é odiosa e maldita.

Abaixo todos os senhores,

juízes e padres!

Desapareçam em qualquer precipício

os rebanhos!

Que nos embriague o vinho doce da mais deliciosa  insurgência.

Quero dançar, aí da hoje sobre um chão que treme!

SOBRE BOSSA NOVA

No fundo a bossa nova sempre foi mais sobre a morte do que sobre amor,

sobre nossas desventuras,

sobre nossa preguiça,

sobre nossa falta de perspectivas,

e sobre a futilidade melancólica e tropical que nos fez avessos a mentira nacional desenvolvimentista

e delinquentes irresponsáveis e  amigos do carnaval.

TODO GOVERNO NÃO PRESTA!

Todo governo é fisiológico, em alguma medida corrupto, e conivente com o privilégio enquanto princípio estrutural da ordem política vigente.

Então, nunca espere nada de qualquer governo além da manutenção das desigualdades, do capitalismo, e  da nossa quase absoluta falta de perspectivas para o futuro a curto e médio prazo.

MORTE AOS RICOS!

Muitos amam o poder.

Mas o poder é privilégio de poucos.

Apenas uma minoria de púrias,

em obscuro conluio,

decide os rumos do mundo.

A maioria existe para manter a ordem,

para a escravidão voluntária,

sobrevivendo da miséria

de qualquer fé ou razão

que lhes conforma a alma.

Mas a exclusão não para de crescer

alimentando a repulsa ao poder

que inspira a multidão fragelada.

Restará um dia,

como alternativa

aos que amam o poder,

apenas uma palavra de ordem:

Morte aos ricos

antes que seja tarde!!!