CONTRA PODER NEGRO

Não quero ser um preto

a viver como um branco.

Quero ser um preto

que inventa a dignidade de ser preto

além e aquém da dignidade dos brancos.

Por isso, não me basta conquistar respeito,

nem me tornar sujeito de qualquer direito.

Minha liberdade é   inventar,

contra o Poder e o Estado,

 uma outra sociedade,

onde brancos não ocupem mais um lugar de comando,

nem digam como viver, aos pretos.

INIMIGO PÚBLICO

Não sou homem  branco e cis,

europeu ou americano do norte.

Sou periférico, desfuncional, 

mestiço e insurgente.

Não me queiram, portanto, como vizinho,

nem me tomem como amigo.

O Estado me considera um perigo.

Tenham cuidado comigo.

Não espero ser aceito

nem quero ser domesticado.

Apenas exijo um pouco de respeito,

mesmo tratado como um diabo.

A PÁTRIA COMO MITOLOGIA

A pátria é uma crença racista,

para legitimar  Estados,

guerras e genocídios.

É o que sustenta exercícios,

policiais e políticos.

A pátria é o PIB,

os números da economia,

a emergência climática,

e os privilégios dos ricos.

Ela é um conjunto de tradições inventadas

e uma história muito mal contada.

A pátria é, em resumo, meus amigos,

uma trágica ilusão que nos  mata.

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CONTRA TODO NACIONALISMO

Todo nacionalismo é racista,

excludente, autoritário e belicista.

Por isso vos digo:

Meu chão não tem fronteiras,

nem bandeiras.

Meu chão é território indígena,

terra firme contra a nação.

Sou franco adversário  do Estado,

da supremacia branca, 

dos iluminados, dos iluministas 

e das malditas  luzes da razão!

Todo nacionalismo é racista,

excludente, autoritário e belicista.

MUDANÇAS

Não basta 

querer mudanças.

É preciso fazer, aqui e agora,

qualquer coisa, 

que produza mudanças.

É preciso, portanto, ser a mudança.

Romper, transgredir,

desobedecer,

quebrar inércias,

desvalorar valores,

agir, destruir, reconstruir,

simplesmente viver ou morrer!

Não basta querer.

É preciso fazer, acontecer,

ir contra a corrente,

mesmo sem esperanças.

Não temos tempo a perder.

Tudo é devir, mudança.

SOCIEDADE NOVA

Só haverá uma sociedade nova

quando ninguém mais depender de salário,

emprego e renda.

Quando não pesar sobre nossas vidas

a autoridade do Estado,

quando a autonomia de cada um

realizar a liberdade de todos.

Só haverá uma sociedade nova

quando for abolida toda desigualdade,

autoridade e hierarquia,

quando crescer dentro de nós 

a necessidade de liberdade

e a vontade de  ordem através da anarquia.

Uma sociedade nova começa aqui e agora!

A CLASSE MÉDIA BRANCA E URBANA

A classe média branca e urbana

sempre quer ter razão e emprego,

ditar modas, tendências e opiniões,

ser vanguarda da civilização,

levando uma vida pura e vegana.

A classe média brancave urbana

despreza a periferia, 

Ama o progresso pós industrial

e as maravilhas da tecnologia.

A classe média branca e urbana 

abraça o fascismo, o progressismo,

e tudo que legítima a verdade única 

do neo liberarismo.

INGOVERNÁVEIS

Sempre governam os ricos e privilegiados,

os corruptos, os demagogos,

os autoritários, racistas, parasitas,

dissimulados inimigos do povo.

Sempre governam os que amam 

o poder e o Estado,

os amigos da autoridade,

os que odeiam a liberdade e a igualdade.

Sempre governam nossos algozes.

Por  isso somos ingovernáveis.

SEGUINDO EM FRENTE

Sigo contra os defensores de deus,

da pátria e da família.

Não me ofereçam o engodo

de um maldito céu 

cheio de sociopatas, fascistas

e genocidas.

Sigo com os desobedientes,

com os desviados e delinquentes, 

com os inimigos da ordem divina,

 da Moral e do Estado.

Com meus irmãos de sina.

Sigo com os  revoltados, socialistas

e toda sorte de desclassificados.

Sigo entre os insurgentes

de hoje, de ontem e de sempre

em estado de insurreição permanente.

O PODER COMO PATOLOGIA

O poder adoece.

O poder mata.

O poder é impotente,

mesmo que esteja em todas as partes,

entre todos os corpos e coisas,

como uma hiper realidade.

O poder é uma incessante produção 

 de verdade, de coerção e  necessidade.

É o que separa o eu dos outros,

quando alguns poucos mandam.

O POLÍTICO COMO CRIMINOSO

Em tempos de quase distopia nacional, a mentira é a expressão mais sincera de uma convicção política.

Políticos, afinal, mentem para sustentar sua hipocrisia, seu falso moralismo, na arte elitista de sempre de novo enganar o povo com maestria.

Tudo que lhes interessa é seu enriquecimento pessoal, é fazer da República uma causa privada, um lucrativo negócio, reafirmando o Estado como um instrumento do Capital.

Políticos são um câncer para sociedade, sua face mais criminosa, sua ilusão mais banal e democrática.

CONTRA O NOVO FASCISMO

Há racismo na sala de estar,

assassinos na polícia 

e o fascismo domina a política.

A vida tem sido refém

do mais perverso neo liberarismo.

Mas ainda há revolta,

uma inquietude nas ruas,

um chamado a luta

contra todo autoritarismo.

A chama da liberdade ainda arde

contra o fascismo.

CETICISMO POLÍTICO

Não confie no governo,

na oposição,

nós liberais, nos comunistas,

fascistas ou niilistas.

Não confie, principalmente,

nós que são movidos

por uma ambição desmedida,

nos que amam o poder e o dinheiro,

acima de sua própria razão e de nossas vidas.

Não confie nos portadores de soluções,

nos salvadores da humanidade,

patriotas, messiânicos 

ou convictos apóstolos de qualquer nova ordem.

Desconfie, acima de tudo,

de toda forma de Estado.

Pois nosso futuro não será decretado.

PÓS EXISTÊNCIALISMO

Não me conforma o viver urbano,

pequeno burguês e pós industrial.

A família monogâmica, o trabalho remunerado, o imposto de renda,

o plano de saúde e o fim do mundo.

Não vem conforma o tempo atual

nem me limita qualquer valor universal.

Sou qualquer coisa parecida com um pós existêncialista.

Minha existência recusa a essência,

identidades e permanências.

VIVER É TROCA

Viver é  troca

onde tudo tem dono, 

se vende, se compra.

Onde as coisas ofuscam os corpos

e a cidade esconde a terra.

Onde somos reduzidos as nossas necessidades.

Onde a vontade supera o desejo

e ninguém sabe o desvalor do dinheiro.

Viver é  troca

onde ter é o que importa

e quem tem é quem manda.

DECLARAÇÃO DE PRINCÍPIOS

Que fique aqui  registrado:

Abomino os privilégios da classe média,

o progresso industrial

& o desenvolvimento nacional.

Abomino o Estado,

a supremacia branca,

a razão iluminista

e o sufrágio universal.

Repudio tudo que é humano,

divino e racional

e nos jardins  noturnos

cultivo flores do Mal.

ENTRE OS MUROS E GRADES DA ESCOLA

Entre os muros e grades da escola 

criam-se corpos dóceis.

Forma-se mão de obra,

conformando consciências

e assujeitando existências.

Entre os muros e grades da escola

tudo é disciplina,

classificação e rotina,

que nos reduz a um diploma,

títulos e hierarquias.

Entre os muros e grades da escola

desaprendemos a vida

para servir a razão e a nação,

Po ara obedecer ao Estado.

MEU CAMINHO É O ANARQUISMO

Não sigo a direita,

ao centro ou 

a esquerda.

Não me iludem conservadorismos

e progressismos.

Meu caminho é a liberdade

do contra poder,

da contra cultura

da contra conduta

e da autonomia mais absurda.

Sigo firme na contramão do  Estado e da República

em tenaz resistência 

contra uma realidade social cada vez mais absurda.

UM LUGAR NO MUNDO

Todos querem um lugar no mundo,

ser alguém na vida,

acumular capital, viver de juros.

Ter dinheiro no banco

e filhos no estrangeiro.

Todos querem ser rei ou patrão.

Não importa a desigualdade,

tanta miséria e exploração.

Todos querem acontecer, viver, crescer,

como se a felicidade fosse para todos

em um mundo feito para o progresso e sucesso de tão poucos.

UM MUNDO PARA TODOS OS ROSTOS

 Hoje, ricos e brancos mandam no mundo,

lucram impunemente contra nosso futuro.

Mas um dia, depois de muito tumulto,

o mundo

será para ricos e brancos

 um merecido e escuro  túmulo.

Pode não ser hoje,

nem amanhã.

Mas um dia 

o mundo não será mais para poucos

Será para todos os rostos que não são ricos e brancos

e merecem um futuro.

ANO NOVO E OLIGARQUIA

Não há rito mais nauseante e revoltante do que aquele de ver a pavorosa espetacularização da posse de prefeitos e vereadores, eleitos pela ilusão do voto, contra a autonomia e liberdade de um povo.

Contra este  rito burocrático e escroto de afirmação e perpetuação da República oligárquica, branca e neo liberamente aristocrática , resgatei uma canção insurgente de ano novo contra todos os falsos reis brancos,  que, ungidos pelo poder da religião e do Estado, ainda nos oprimem em cada ano novo depois de cada circo/ciclo eleitoral....

O rei chegou....