CONSCIÊNCIA NEGRA

Os negros tem consciência 

da branquitude, do racismo estrutural,

do extermínio, da exploração,

da vigilância, do punitivismo estatal,

do deus genocida que se diz único  e universal,

da segregação, do imperialismo,

  da modernidade, do capitalismo,

de toda miséria, hipocrisia

e dominação embutida na ideia de civilização.

Os negros tem consciência do colonialismo, da razão européia e da banalidade do mal.

Sim. Os negros tem consciência 

e, infelizmente, ainda, muita paciência.

A POLÍCIA QUE MATA NA PERIFERIA

A Policia é parte da delinquencia, 

do crime, de nossa insegurança pública

é permanente estado de emergência.

 A policia alimenta a violência,

 criminaliza a miséria e naturaliza a truculência. 

 A policia é o Estado que vigia,

 pune e mata na perifeira, 

é a barbarie organizada, legitimada,

por uma sociedade racista, autoritária

e elitista.

A polícia protege a propriedade,

o branco,  o rico e o politico bandido.

CONSERVADORISMO E CORRUPÇÃO

A corrupção cresce onde próspera a ambição,

a paixão pelo poder,

pela hierarquia e pelo punitivismo.

Cresce entre aqueles que fazem apologia as desigualdades e acham justa toda forma de exploração e condenação a necessidade.

A corrupção é a base da República,

da branquitude, do progresso e da economia.

Ela é o princípio fundamental da nação,

a inconfessavel inspiração dos que defendem a moral,

 a ordem, o progresso e o Capital.

A corrupção é o que mantém

as coisas como são.

INTUIÇÃO ANARQUISTA

Não existo para o trabalho,

para ser coisa,

força produtiva.

Não existo para o consumo,

para a economia.

Não acredito em determinismos,

infraestrutura, estado, igrejas

ou materialismos.

Não acredito em colonialismo, 

liberarismo, imperialismo, 

socialismo de estado e  fascismo.

Aposto, apenas, no anarquismo.

O FUTURO DO ATRASO

O atraso é o futuro que nos pariu,

que nos levou a ordem e progresso

deste nefasto Estado chamado Brasil.

Nossa história é de exploração,

poder e crime racial,

social e, antes de tudo, estatal.

O Estado  pune pretos e miseráveis 

por toda delinquência e vadiagem,

para manter a exploração,

a branquitude e a escravidão.

O atraso é o futuro que nos pariu

ontem e hoje,

sem a ilusão de amanhã.

TRABALHAR ATÉ MORRER

Trabalho para consumir,

não para viver.

Pois para viver

preciso do tempo 

que o trabalho me rouba.

Trabalhar

é morrer pouco a pouco,

é não ser.

MUNDO POSSÍVEL

O mundo não é perfeito.

Nunca será perfeito.

Mas pode ser,

algum dia,em alguma medida,

 justo, igualitário e libertário.

Afinal, o mundo é como somos.

Ele é imagem e semelhança 

de nossas convicções,

 certezas e ilusões.

O mundo será, portanto, 

o que nos tornarmos

na contramão da razão, 

do progresso, do Capital e da civilização. 

Não importa o quão imperfeito

ou estranho,

o mundo será sempre um espelho

de tudo aquilo que somos.

MERITOCRACIA E RACISMO

Os  brancos nascidos em bom berço

não admitem que são privilegiados,

defendem os méritos de seus antepassados,

supremacistas e escravocratas.

Acreditam no trabalho, 

na hierarquia e na providência divina.

Acham natural que os negros existam cativos á periferia,

presos a miséria e ao trabalho quase escravo.

Para eles, probreza é sempre caso de polícia e necropolitica.

INSURGÊNCIA PRETA

Há pretos que não acreditam no Estado,

em  Deuses,  Diabos,  brancos, justiça ou benfeitores da humanidade.

Há pretos que sabem do horror

que nos foi legado pela modernidade,

 que não se iludem com a República,

que não juram a bandeira

 Nem confiam na polícia.

Há pretos que não  aceitam a branquitude,

o racismo e todos os privilégios 

que sustentam tantas desigualdades.

São pretos que sonham novos quilombos,

tempos vindouros de radicais  liberdades.

AÇÃO DIRETA

Não acredito na violência policial,

no fim do crime organizado,

na vitória do bem sobre o mal.

Não acredito em deus e no diabo.

No político bem intencionado,

no policial disfarçado.

Não me iludo com o Estado.

Acredito na  insurgência,

 na urgência de qualquer ação direta,

que nos traga, finalmente, 

um pouco de  justiça social.

VIOLÊNCIA PUNITIVA

As chacinas, os linchamentos,

os pequenos e grandes castigos,

encantam a turba enfurecida

embriagada de ódio e vingança.

É tamanha a sanha punitivista

que não se fala em ordem

ou justiça.

É preciso, apenas,

pelas mãos da multidão ensandecida

ou através das armas do  policial homicida,

provar o sangue da vítima.

Castigar e matar é tudo o que importa.

É uma necessidade, um prazer,

uma urgência, uma patologia.

Mas a morte é sempre racista e classista.

só morre preto e pobre.