quarta-feira, 31 de maio de 2017

EM BUSCA DE UMA NOVA ESFERA PÚBLICA

Em terras tupiniquins certamente não se vive segundo padrões mínimos de civilidade e dignidade humana. Isso vale, certamente, para a maioria da população. Principalmente nos grandes centros urbanos, onde o acesso a alguns serviços elementares como saúde, educação de qualidade, saneamento básico, segurança,  dentre outros, deveriam ser uma realidade acessível. Segundo o discurso oficial dos gestores públicos, todos os esforços são sempre dirigidos neste sentido.

Nada mais natural do que supor, portanto, que  o modelo de administração pública, gerido por políticos profissionais, revela-se viciado, ineficiente e pouco comprometido com a garantia de direitos. As razões para sua desfuncionalidade são diversas. Passando por corrupção, má administração , despreparo profissional e compromisso com grandes interesses econômicos corporativos.
Mas é redundante repetir o obvio e tão decantado  eterno problema da insatisfatória garantia de direitos básicos e elementares a maioria da população. Entra governo, sai governo, e nada muda, mesmo que todos os políticos consagrados pelo sufrágio, independente do aspecto ideológico, sempre ofereçam e prometam realizações miraculosas  neste campo. Vivemos em um tipo de sociedade onde as respostas não são simples.

A demagogia dos discursos  políticos estabelecidos, demasiadamente presos a formula partido como espaço de gestação de politicas publicas, vem se revelando uma estratégia  estéril e já desgastada. Elitista por definição, os partidos políticos vivem em função de sua sobrevivência e compromisso com o jogo do poder institucional. Diante dos tantos escândalos de corrupção que marcaram os últimos anos, os partidos políticos e os políticos de carreira, são objeto de desconfiança e ceticismo muito bem merecidos.

Por outro lado, sua sobrevivência assegura-se pela aparente falta de alternativas  a velha pratica e formas de gestão e organização do espaço público em seu sentido mais amplo. Tal consensual vazio de alternativas  sustenta o quadro de  desfuncionalidade  elementar da pratica politica  aqui muito sumariamente definido.
Seria prematuro oferecer soluções teóricas deslocadas da realidade concreta. Pode-se mesmo dizer que, até o momento, alternativas apenas se esboçam, mesmo de forma muito tímidas, na contestação libertária  do velho ordenamento politico-Estatal. Inspirada pelo horizonte da auto gestão e de formas não hierarquizadas de organização e intervenção no espaço público ela , até pouco tempo, não existia. Produto da própria crise do poder, hoje tal perspectiva  apenas nos apontam para um futuro ainda não muito claro, embrionário, que pode levar a flexibilização da representação politico partidária através de candidaturas independentes  ou através de um peso maior as consultas populares na gestão da vida pública. Para os novos anarquistas , o que é certo, é que velhas praticas e formulas do poder já não nos satisfazem mais na contemporaneidade. O que por si só justifica o esforço ousado da imaginação criadora para trilhar, a longo prazo,  qualquer mudança que ainda nos pareça impossível.

 Assim, fala-se muito de uma crise de representação como se esta não passasse de uma ausência de novas lideranças oligárquicas ligadas aos enunciados convencionais do poder capazes de propor e construir alternativas. Mas tal crise de representação pode ser lida também como  uma crise do próprio poder, da própria esfera pública,  fundada em instituições e práticas de representação inspiradas pelo modelo Estado Nação.

Se para alguns, a critica libertária parece utopia, para outros, é a própria politica representativa que se revela monstruosamente ineficaz, problemática e incapaz de corrigir-se, perpetuando um jogo de poder elitista, baseado na hegemonia de oligarquias atreladas a interesses corporativos e bem sintonizadas como o poder econômico.  O realismo, portanto, não parece uma alternativa a ”utopia” ....

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