A POTÊNCIA DA MULTIDÃO

Todos que não tem lugar,

voz ou rosto 

no mundo atual

compõem uma grande multidão 

de despossuidos e inclassificáveis 

cuja mera existência 

já é um ato de protesto e resistência 

contra o pragmátismo e utilitárismo

do mundo do progresso e do Capital.

Todos os desviantes, fracassados,

delinquentes, preguiçosos e não qualificados

formam um imenso exército de imprestáveis 

que desafiam a lógica do trabalho,

da exploração, da produção e da acumulação.

 O futuro depende da potência desta perigosa multidão.

QUERO SER LIVRE

Morrer é melhor que servir 

Quero cuspir na pátria

e chutar a porta.do nosso miserável

Estado nação de merda.

Quero ser livre.

Não importa as consequências.

COTIDIANO, PRISÃO E REVOLTA

Há sempre um dinheiro que falta,

um poder que oprime,

um emprego que explora,

enquanto a existência passa

e a vida escapa sem ser vivida.

Há sempre uma necessidade,

uma angústia, um luto, uma luta,

um poder que nos conforma e anula.

Mas há sempre, também 

qualquer linha de fuga,

uma trincheira, jardim ou revolta.

ENTRE OS DESPOSSUIDOS E EXCLUÍDOS

Nunca gostei de políticos,

pastores,  juízes ou chefes de polícia.

Nunca acreditei na lei, na ordem

ou no suposto estado democrático de direito.

Sempre duvidei de toda autoridade

pois estou entre os despossuidos,

os explorados e os discriminados

em um mundo de rentistas e proprietários.

Acredito na potência do impossível 

contra o absurdo de nossa realidade.

PRIMEIRO DE MAIO

O dia dos trabalhadores

não cabe no decreto da ditadura Vargas,

nos sindicatos tutelados  pelo Estado, 

nas  centrais pelegas 

ou no populismo barato 

dos partidos de esquerda.

O dia dos trabalhadores 

é de todas as lutas, de todos os sonhos, insurreições, lutos e perdas.

É de todas as rebeldias, resistencias e rebeliões.

Ele é de  quem ganha pouco,

de quem não tem nada,

mas sobrevive, contra todas as expectativas.

O primeiro de maio é de quem vai pra rua,

é de quem briga e se reinventa na potência do intempestivo.

JUSTIÇA COMO TRANSFORMAÇÃO SOCIAL

Exigimos justiça 

por todos os  mortos pela brutalidade policial,

por todas as vítimas do terrorismo estatal.

Queremos uma justiça que não cabe nos tribunais,

que não é mera reparação histórica,

que não é positivista, liberal ou divina,

mas que se faz em multidão 

penalizando, acima de tudo, valores e instituições.

Exigimos uma justiça que não cabe nos tribunais

Ccaaaa a ude  um povo

 para um mundo novo.

OS BRANCOS DE CLASSE MÉDIA

Os brancos de classe média

acreditam sempre num país melhor.

Amam a  ordem, o progresso e consumo.

Defendem a democracia,

a ditadura e qualquer governo.

Investem dinheiro no banco

e vivem dos privilégios da branquitude.

Os brancos de classe média

não querem revolução,

nem baderna.

Reivindicam o direito divino

ao conforto e a virtude.

A POLÍCIA NÃO É NOSSA AMIGA

A polícia vigia e reprime pretos,

pobres e indigentes.

Bate, prende e mata

quem não é branco,

não vive em bairro chique 

e não tem dinheiro no banco.

A polícia não nos protege,

nem faz justiça.

É racista, elitista

e seletiva.

Bate em trabalhador que protesta.

Defende a propriedade,

 o criminoso de terno,

o poder e a desigualdade.

A polícia não é nossa amiga

e quase sempre esconde a verdade.

NOVO SENSO COMUM

Nos ensinaram o tedio,

 de uma vida morna,

 mansa e sem sustos, 

entre entes queridos,

 ócios, rotinas e compromissos profissionais. 

 Aprendemos a viver 

como cidadãos consumidores e investidores,

 conformados ao atual estado democrático de direito privado, 

ao crescimento do PIB e ao progresso técnico industrial.

 A mediocridade é nosso máximo objetivo,

 nosso ideal moral.

CENÁRIO DISTÓPICO

A vida vira um raso espetáculo 

onde há apenas fatos, 

notícias e dados.

Onde somos reduzidos a condição de testemunhas e vítimas 

das coisas  que nos definem

na prisão dos dias e rotinas de Estado.

Há um silêncio matando nossa existência

e ele não para de crescer

em um mundo cada vez mais administrado e controlado

 por toda forma de  poder e opressão.

É TRISTE VIVER DE SALÁRIO

 É triste depender de salário,

ganhar o mínimo,

enquanto alguns vivem de renda,

patrimônio e lucro.

É triste saber tanta desigualdade,

miséria e necessidade,

onde se produz e se gasta tanto

para o gozo  de tão poucos.

É cada vez mais insuportável 

existir para o trabalho

em uma sociedade feita

para os que não trabalham.

É PRECISO REVOLTA

É preciso revolta,

mobilização e união 

contra o Estado, 

o Capital

e toda forma de submissão.

É preciso ter raiva,

perder a razão,

erguer os punhos fechados,

construir uma grande insurreição.

 

A VIDA VAI MELHORAR ?

Desde sempre 

escuto que a vida ainda vai melhorar.

 Mas ela só melhora para os brancos,

para os bem nascidos, que nos exploram.

 Pra gente, 

é sempre a mesma conversa fiada, 

de que um dia a vida vai melhorar,

que hoje temos democracia

e o amanhã  será de quem trabalhar.

 A verdade é que tudo sempre piora

nesta república de elites e privilégios

mas ninguém tem coragem de se revoltar.