O ex
presidente Luiz Ilário Mula da Silva voltou as páginas do noticiário político como interventor cara de pau no caso já antigo, mais ainda
em curso, do MENSALÃO, cujo julgamento está previsto ainda para este ano...
Segundo
o ministro do STF Gilmar Mendes, sobre preções recentes do ex presidente Mula bichado da
Silva para adiar o julgamento do MENSALÃO, segue abaixo trecho da entrevista
polêmica concedida por ele a Revista VEJA :
Quando o senhor foi ao encontro do ex-presidente Lula não imaginou
que poderia sofrer pressão envolvendo o mensalão?
Gilmar Mendes — Não. Tratava-se de uma conversa normal e
inicialmente foi, de repassar assuntos. E eu me sentia devedor porque há algum
tempo tentara visitá-lo e não conseguia. Em relação a minha jurisprudência em
matéria criminal, pode fazer levantamento. Ninguém precisa me pedir para ser
cuidadoso. Eu sou um dos mais rigorosos com essa matéria no Supremo. Eu não
admito populismo judicial.
Sua viagem a Berlim tem motivado uma série de boatos. O senhor
encontrou o senador Demóstenes Torres lá?
Gilmar Mendes — Nos encontramos em Praga, eu tinha compromisso
acadêmico em Granada, está no site do Tribunal. No fundo, isto é uma rede de
intrigas, de fofoca e as pessoas ficam se alimentando disso. É esse modelo de
estado policial. Dá-se para a polícia um poder enorme, ficam vazando coisas que
escutam e não fazem o dever elementar de casa.
O senhor acredita que os vazamentos são por parte da polícia, de
quem investigou?
Gilmar Mendes — Ou de quem tem domínio disso. E aí espíritos
menos nobres ficam se aproveitando disso. Estamos vivendo no Supremo um momento
delicado, nós estamos atrasados nesse julgamento do mensalão, podia já ter
começado.
Esse atraso não passa para a população uma ideia de que as pressões
sobre o Supremo estão funcionando?
Gilmar Mendes — Pois é, tudo isso é delicado. Está acontecendo
porque o processo ainda não foi colocado em pauta. E acontecendo num momento
delicado pelo qual o tribunal está passando. Três dos componentes do tribunal
são pessoas recém nomeadas. O presidente está com mandato para terminar em
novembro. Dois ministros deixam o tribunal até o novembro. É momento de
fragilidade da instituição.
Quem pressiona o Supremo está se aproveitando dessa fragilidade?
Gilmar Mendes — Claro. E imaginou que pudesse misturar
questões. Por outro lado não julgar isso agora significa passar para o ano que
vem e trazer uma pressão enorme sobre os colegas que serão indicados. A questão
é toda institucional. Como eu venho defendendo expressamente o julgamento o
mais rápido possível é capaz que alguma mente tenha pensado: “vamos
amedrontá-lo”. E é capaz que o próprio presidente esteja sob pressão dessas
pessoas.
O senhor não pensou em relatar o teor da conversa antes?
Gilmar Mendes — Fui contando a quem me procurava para contar
alguma história. Eu só percebi que o fato era mais grave, porque além do
episódio (do teor da conversa no encontro), depois, colegas de vocês
[jornalistas], pessoas importantes em Brasília, vieram me falar que as notícias
associavam meu nome a isso e que o próprio Lula estava fazendo isso.
Jornalistas disseram ao senhor que o Lula estava associando seu nome
ao esquema Cachoeira?
Gilmar Mendes — Isso. Alimentando isso.
E o que o senhor fez?
Gilmar Mendes — Quando me contaram isso eu contei a elas
[jornalistas] a conversa que tinha tido com ele [Lula].
Como foi essa conversa?
Gilmar Mendes — Foi uma conversa repassando assuntos variados.
Ele manifestou preocupação com a história do mensalão e eu disse da dificuldade
do Tribunal de não julgar o mensalão este ano, porque vão sair dois, vão ter
vários problemas dessa índole. Mas ele (Lula) entrava várias vezes no assunto
da CPI, falando do controle, como não me diz respeito, não estou preocupado com
a CPI.
Como ele demonstrou preocupação com o mensalão, o que falou?
Gilmar Mendes — Lula falou que não era adequado julgar este
ano, que haveria politização. E eu disse a ele que não tinha como não julgar
este ano.
Ele disse que o José Dirceu está desesperado?
Gilmar Mendes — Acho que fez comentário desse tipo.
Lula lhe ofereceu proteção na CPI?
Gilmar Mendes — Quando a gente estava para finalizar, ele
voltou ao assunto da CPMI e disse “que qualquer coisa que acontecesse, qualquer
coisa, você me avisa”, “qualquer coisa fala com a gente”. Eu percebi que havia
um tipo de insinuação. Eu disse: “Vou lhe dizer uma coisa, se o senhor está
pensando que tenho algo a temer, o senhor está enganado, eu não tenho nada,
minha relação com o Demóstenes era meramente institucional, como era com você”.
Aí ele levou um susto e disse: “e a viagem de Berlim.” Percebi que tinha outras
intenções naquilo.
O ex-ministro Nelson Jobim presenciou toda a conversa?
Gilmar Mendes — Tanto é que quando se falou da história de
Berlim e eu disse que ele [Lula] estava desinformado porque era uma rotina eu
ir a Berlim, pois tenho filha lá, que não tinha nada de irregular, e citei até
que o embaixador nos tinha recebido e tudo, o Jobim tentou ajudar, disse assim:
“Não, o que ele está querendo dizer é que o Protógenes está querendo envolvê-lo
na CPI.” Eu disse: “O Protógenes está precisando é de proteção, ele está
aparecendo como quem estivesse extorquindo o Cachoeira.” Então, o Jobim sabe de
tudo.
Jobim disse em entrevista a Zero Hora que Lula foi embora antes e o
senhor ficou no escritório dele tratando de outros assuntos.
Gilmar Mendes — Não, saímos juntos.
O senhor vê alternativa para tentar agilizar o julgamento do
mensalão?
Gilmar Mendes — O tribunal tem que fazer todo o esforço. No
núcleo dessa politização está essa questão, esse retardo. É esse o quadro que
se desenha. E esse é um tipo de método de partido clandestino.
Na conversa, Lula ele disse que falaria com outros ministros?
Gilmar Mendes — Citou outros contatos. O que me pareceu
heterodoxo foi o tipo de ênfase que ele está dando na CPI e a pretensão de
tentar me envolver nisso.
O senhor acredita que possa existir gravação em que o senador
Demóstenes e o Cachoeira conversam sobre o senhor, alguma coisa que esteja
alimentando essa rede que tenta pressioná-lo?
Gilmar Mendes — Bom, eu não posso saber do que existe. Só
posso dizer o que sei e o que faço.