quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

O ESPECTRO DA CATÁSTROFE



É um fato elementar que a intuição da catástrofe tornou-se um traço fundamental da cultura contemporânea. Nosso imaginário social é hoje assombrado pelo espectro da iminência de um desastre ambiental, econômico, politico, ou, simplesmente, na confluência de todas estas facetas, pela ameaça de um colapso civilizacional.

Em todos os campos das atividades humanas nos confrontamos com um sentimento de impasse e de crise que constitui o pano de fundo permanente da circulação de notícias e informações. Lidamos com isso desde a segunda metade do século XX, quando,  definitivamente, o impactante trauma de duas grandes guerras, dissolveu qualquer otimismo pós iluminista no progresso da humanidade e da tecnologia. Desde então nos tornamos conscientes de que a vida esta sempre em risco, sugeita a um equilíbrio frágil de forças humanas e naturais.
Sabemos que nossas instituições politicas e tecnológicas não garantem um futuro melhor para humanidade. Talvez, até mesmo o impeçam. A relatividade e reversibilidade de todos os avanços materiais conquistados pelas ultimas gerações parece ser não apenas um risco, mas uma tendência.

Diante disso, o que mais surpreende é nossa capacidade para naturalizar o medo e o pessimismo. Somos capazes de conviver com as piores notícias, pois, no fundo, fingimos que a catástrofe que se desenha no horizonte é reversível ou, quem sabe, até mesmo exagerada. 

Se o fim do mundo esta na ordem do dia, ele não será hoje.Tal raciocineo tosco, justifica o conformismo e a indiferença de muitos. e nos torna cúmplices da catástrofe que, mesmo quando  nos parece iminente, permanece suspensa em nossa imaginação. 

Somos incapazes de gerir os impasses de nossa época e sucumbimos a inercia de um capitalismo decadente. No fundo,  sabemos que nosso grande problema é justamente aquilo que nos tornamos. 

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