OS CORPOS NA RUA PRINCIPAL

Os corpos  expostos na rua principal,

cheiram a morte,

espalham luto pela favela,

pela cidade, o país 

e o mundo.

Expõe o racismo,

a brutalidade,

de um Estado

que abraça o fascismo.

Desnuda a crueldade

da classe média branca

que aplaude a chacina

e do negro catequizado,

subserviente a um deus carrasco.

Os corpos expostos na rua principal,

desnudam o punitivismo 

que nega a justiça e consagra o banditismo.

Não se trata mais

de combate ao crime,

mas de caça e extermínio.

 

O BRASIL É UM LUGAR ASQUEROSO VERMELHO DE SANGUE

No Brasil celebra-se execução sumária,

acredita-se na violência como remédio para a violência

e a República é uma instituição corrupta e privada. 

No Brasil a brutalidade  é normalizada nas periferias

e a polícia mata pretos e pobres todos os dias,

pois o racismo e o punitivismo 

definem o que é justiça.

O Brasil é um lugar asqueroso vermelho de sangue, 

indigno de admiração ou visita.

MINHA VIDA JAMAIS SERÁ FASCISTA

O ódio dos moralistas,

punitivistas, militaristas,

sexistas e racistas,

jamais será 

mais potente

do que a minha revolta

e sede por liberdade,

 igualdade e justiça.

O diabo me protegerá sempre

dos filhos de Abel

que odeiam como Caim.

Minha vida jamais será fascista,

mas, radicalmente, 

anticapitalista e anarquista.

RESISTÊNCIA

Nossa normalidade é racista,

excludente, violenta e doentia.

Quase tudo nela é demagogia

ou  hipócrisia.

Lutamos todos os dias

para que nossa realidade

 jamais se reduza a nossa normalidade.

É NECESSÁRIO INDIGNAR-SE

É necessário indignar-se,

não aceitar o inaceitável,

não normalizar  desigualdades

e privilégios.

É preciso lutar contra a injustiça,

contra Deus,o Estado e o Absurdo,

por sempre em xeque o fascismo,

jamais seguir manso e conformado.

É necessário indignar-se,

debater-se contra os fatos.

POLÍCIA BANDIDA

A polícia que chacina na periferia

não cumpre a lei,

nem promove justiça.

É bandida, criminosa e fascista.

A polícia que executa friamente

a  política genocida de um Estado terrorista

é descaradamente racista.

É uma polícia que não serve nem protege a sociedade,

que faz apologia a ditadura,

que é corrupta,

que bate em trabalhador,

que defende a propriedade,

 a desigualdade e o arpartheid.

É uma polícia que não tem dignidade,

que não presta e não  tem futuro.

INSEGURANÇA PÚBLICA

A insegurança pública é patrocinada pelo Estado terrorista

através da sua polícia genocida,

da lógica punitivista e racista

que  criminaliza a periferia

e inatitucionaliza a desigualdade.

A insegurança pública normaliza a violência como política,

banaliza a morte,

espalha o medo e fortalece o preconceito.

A insegurança pública, um dia,

há de impor a  cidade um novo arpartheid

inspirado pelo mais asqueroso fascismo

e pelas mais distopias tendências 

 de nossa triste realidade. 

ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO PRIVADO

Para os que nascem

sem vez e voz,

não existe justiça,

apenas presídios.

Afinal, é preciso ter dinheiro

para garantir direitos

em qualquer democracia.

A cidadania, afinal, não é para todos,

depende do saldo bancário,

do CEP e do sobrenome.

SISTEMA PENAL

As injustiças da lei e

o autoritarismo da ordem

fazem parte do jogo da normalidade

e o mal banal da obediência 

não isenta ninguém de responsabilidade.

O poder é um trunfo do opressor

e o direito não serve ao oprimido.

Nada espere do policial, do juiz ou do advogado.

Não confie no Estado.

Desde o início,

o sistema te condenou,

considerou culpado,

pelo crime de ter nascido

pobre, negro e miserável.

GOVERNO

Não existe bom governo.

Pois governo é controle,

disciplina, vigilância,

adestramento, punitivismo.

Governo é  terrorismo de  Estado,

 serviço publico precário,

 verba desviada, elitismo,

político rico e  eleitor miserável.

Governo é tudo que não presta.

É demagogia, populismo,

auto propaganda e hipocrisia.

Governo é o projeto vertical

de controle social que serve ao Capital.

MARGINALIDADE LÚDICA

Tenho um profundo asco

daqueles que mandam no mundo,

dos que amam o poder, o dinheiro,

deus e o Estado.

Também desprezo

aqueles que obedecem,

os escravos satisfeitos

que exautam o livre arbítrio.

Gosto, apenas, 

 dos vagabundos e desajustados

que vivem sem eira, nem beira,

a margem da ordem e dos fatos.

ÓDIO AO FASCISMO

Mais do que nunca 

é preciso abominar o fascismo

e toda forma de autoritarismo.

É preciso combater o racismo,

o terrorismo de Estado, o reformismo,

o fanatismo religioso e o falso moralismo 

dos defensores da família, da propriedade

e do neo liberarismo.

É preciso ganhar as ruas, janelas e telas.

Tomar os bares, envocar tempestades.

Romper com a ilusão da boa democracia.

.

É  tempo de Inventar um outro mundo possível,

subverter o cotidiano,

desobedecer a lei e a ordem,

desejar o impossível.

Mais do que nunca

é preciso ser subversivo.

MEU PASSADO

Meu passado não é europeu.

É negro, africano,

indígena e mulçumano.

Não é cristão, colonial,

pós industrial, moderno ou urbano.

Meu passado é o legado dos meus antepassados.

Não foi inventado pelo Estado,

nem criado por supremacistas.

Meu passado nunca esteve 

nós livros de história.

Nunca foi contado ou ensinado,

mas apagado por uma metanarrativa eugenista.

EM NOME DA LEI

Politicos, juízes, burocratas e policiais

jamais estarão ao lado do povo.

Pois existem para manter e administrar a ordem,

para o exercício do poder,

da desigualdade e do privilégio,

que define o Estado,

como instância coercitiva,

acima da sociedade.

Políticos, juízes, burocratas e policiais

sempre falam em nome da lei e da legalidade,

do status quo que representa o interesse de poucos contra os direitos de muitos.

São francos inimigos da igualdade e da liberdade.

. 

NÃO ME ENQUADRO

Não me enquadro.

Não sigo cartilhas,

nem me conformo

a rótulos.

Não escuto papo

de branco,

liberal, cristão e humanista,

sobre Estado, partidos e democracia.

Não me enquadro.

Não tenho diploma,

não leio a Bíblia,

e fumo maconha.

Minha realidade não cabe

na sua vidinha ou opinião cretina.

 

ARQUITETO DE UM MUNDO NOVO

Não quero morrer trabalhando

sobrevivendo com um salário de merda

em uma precária existência entre o céu e a terra.

Não quero sustentar o conforto

de quem vive do lucro, da herança

e do roubo.

Contra as razões econômicas,

produtivas e nacionais,

quero ser, entre os outros,

o livre arquiteto de um mundo novo

através de práticas descoloniais

e novas formas de vida.

Sei que o futuro será outra coisa...

LONGA VIDA AOS QUE LUTAM CONTRA O TRABALHO

Desprezo os bons escravos

dedicados ao lar e ao trabalho.

Tenho nojo dos funcionários 

que admiram patrões, chefes supremos, bilionários  e empresários.

Apoio os que lutam por tempo livre,

os inimigos da lei, da ordem e do Estado,

que acreditam  em uma vida livre e digna

inspirados pelo ideal libertário.

O futuro começa aqui e agora

na contramão da escravidão do trabalho.

Todo labor deve ser lúdico,

toda riqueza repartida entre os produtores

para invenção de um mundo novo.