Para os menos favorecidos tudo é dificultade e afirmação do estigma de cidadãos de segunda categoria em uma República elitista. Em tempos de pandemia o governo promove aglomerações em filas do sofrimento.

Segundo Benedict Anderson em seu clássico estudo “Nação e Consciência Nacional, um estado nação é uma comunidade política imaginária, uma dessas estranhas construções culturais da modernidade. Particularmente, diria ainda que algumas imaginações nacionais mostram-se mais funcionais enquanto outras, por uma serie de variáveis, são tragicamente desfuncionais e carnavalescas versões de qualquer fantasia nacionalista ideal. O exemplo brasileiro enquadra-se, naturalmente, neste ultimo caso...
sexta-feira, 24 de abril de 2020
REFLEXÕES SOBRE O BRASIL DO CORONA VIRUS XVII
As filas formadas nas agência da Caixa Econômica no país inteiro, por conta das exigências para o recebimento do auxílio emergencial do governo de 600 reais , os tantos candidatos com o cadastro ainda em estado de análise, fazem o pequeno benefício governamental una grande humilhação para a população mais humilde.
quinta-feira, 23 de abril de 2020
REFLEXÕES SOBRE O BRASIL DO CORONA VIRUS XVI
Passou a valer hoje no Rio de Janeiro um decreto que estabelece a obrigatoriedade do uso de máscaras para quem circular pela cidade nestes tempos de quarentena.
O bem intencionado decreto ignora, entretanto, a ausência na população de uma cultura da mascara. Muitos atenderam ao decreto, mas utilizavam as máscaras abaixo do nariz, penduradas no pescoço, por um período maior do que o recomendado, entre outras situações de uso inadequado.
Fica mais uma vez a dica que medidas coercitivas e normativas são ineficazes e , o que realmente importa, é a sensibilização das consciências. Vestir as estátuas da cidade com máscaras outra medo da adotada, também não ajuda muito. Ironicamente, o mesmo prefeito autor do decreto, fala em medidas de flexibilização da quarentena para o funcionamento do comércio.
( O TEMPO DA PANDEMIA) REFLEXÕES SOBRE O BRASIL DO CORONA VIRUS XV
A pandemia não demarca um agora,
Não define um passado ou um futuro.
Ela simplesmente é na precariedade da vida,
Esvaziada de cotidiano.
A pandemia engendra um silêncio,
Um assombro,
Que embaralha o tempo
E nos cala a existência.
Dentro dela não sabemos mais quem somos.
A matéria prima de nossos atos foi perdida.
E o dia seguinte se faz cada vez mais distante.
REFLEXÕES SOBRE O BRASIL DO CORONA VIRUS XIV
A dicotomia entre a vida e a economia advogada pelo poder executivo, que tenta irracionalmente minimizar a emergência sanitária, contagia estados e municípios, diante dos efeitos da queda de arrecadação. Iniciativas para flexibilizar a quarentena se multiplicam dando força ao discurso oficial da União de retomada da "normalidade" a qualquer custo. Para todas as instâncias de governo, a vida, como bem sabemos, não vem em primeiro lugar. É a racionalidade das coisas que impera sob o bem estar das pessoas na lógica administrativa, apesar da hipocrisia dos discursos oficiais. Depois de quase dois meses de quarentena, para os governantes, tudo se resume a um número aceitável de mortes. Mas todos os diagnósticos oficiais sobre os rumos da pandemia se baseiam em dados que não refletem com precisão o tamanho do problema dado a impossibilidade de testes em massa. Não há um normal a ser retomado ou como salvar as receitas de felicidade económica neoliberarais.
REFLEXÕES SOBRE O BRASIL DO CORONA VIRUS XIII
A quarentena e o distanciamento social, em tempos de cidades sitiadas pela peste, se tornaram um privilégio de classe média. Boa parte da população fica exposta aos riscos das ruas, seja pela falta de moradia, pelos imperativos do trabalho quase escravo. Há ainda a multidão invisivel que entope as prisões oferecendo um banquete a peste.
A quarentena expõe com todas as cores a tragedia da desigualdade e o elitismo das varandas dos condomínios.
REFLEXÕES SOBRE O BRASIL DO CORONA VIRUS XII
O novo normal que se anuncia não será celebrado. Será o pior cenário possível em um país de calamidades. O que pode ser para nós a retomada da "normalidade" além de um estranhamento radical de tudo aquilo que viviamos é um reconhecimento de sua inviabilidade no cenário pós pandemia ?
A mais óbvia sequela da peste será a consciência da crise civilizacional ocidental em nosso abismo nacional.
Não teremos um horizonte de reconstrução do precário que nos definia, mas uma percepção mais clara do grande impasse político, social e econômico, ao qual se reduziu o Brasil dos últimos anos.
Depois da pandemia não será mais tão fácil naturalizar nosso absurdo cotidiano. Serão tempos de radicalização, de aguçamento de todas as contradições, em um cenário de aprofundamento de crises e impasses já existentes.
O fato é que não há como nada ser como antes.
quarta-feira, 22 de abril de 2020
REFLEXÕES SOBRE O BRASIL DO CORONA VIRUS XI
No mês de abril a pandemia deixou de ser uma ameaça invisivel e começou a ganhar rosto através de suas vítimas fatais. O medo e a angustia envenenaram o cotidiano de grandes centros urbanos como São Paulo e Rio de Janeiro com o número crescente de mortes.
Não há mais normalidade possível e tudo é incerteza. Apesar de todos os esforços, não há controle sobre a situação. Admitem as autoridades públicas. Mesmo assim , indiferentes aos fatos, existem aqueles que insistem na recusa da realidade e, contrariando as recomendações de isolamento social, aventuram-se diariamente nas ruas quase desertas. Tentam seguir suas vidas minimizando a gravidade da emergência sanitária. São, simplesmente, incapazes de aceitar ou lidar com a calamitosa situação. Acabam se tornando suas maiores vitimas e involuntários agentes de contágio.
Mas o que mais chama atenção é a indiferença destes indivíduos em relação ao drama coletivo, sua incapacidade de empatia ou comprometimento social. Todos pagamos pela irresponsabilidade de seu egoísmo. O mais absurdo é que tal postura é alimentada e incentivada abertamente pelo chefe do executivo. O horror torna-se absudamente uma questão política e ideológica. Para alguns a defesa da vida é uma mera questão de opinião frente aos efeitos ecoomicos da quarentena. A barbárie surge como bandeira conservadora contra o mais elementar bom senso. Diante disso, o futuro já não é mais o mesmo e embates políticos prometem obscurecer a vida pública em um cenário de crise total da sociedade. Ouso mesmo dizer, o futuro é cada vez mais duvidoso entre as ruínas da pós pandemia e suas sequelas em todos os planos do acontecer social. Mesmo assim, existem aqueles que acham que a consideração de uma única esfera da vida coletiva, e não sua totalidade, deve ser motivo de preocupação.
quinta-feira, 16 de abril de 2020
NUNCA DESISTA DA REVOLTA!
É preciso que se diga, que sempre se repita, que nossa revolta não é impotência, mas uma força que cresce contra a distopia nacional.
Um dia seremos visíveis, invencíveis, contra todo absurdo que fez do cotidiano, uma horrenda prisão, uma fábrica de miseráveis para o consumo de privilegiados.
Apostamos no futuro do insuportável,na potencia do desespero.
REFLEXÕES SOBRE O BRASIL DO CORONA VIRUS X
Depois da pandemia a aversão a bolsonaro como figura pública deixou de ser uma posição política partidaria para se tornar um imperativo ético, uma questão de caráter.
Como admitir que alguém tão avesso ao bem comum, tão incapaz de empatia, discernimento entre o absurdo e o razoável, possa frequentar a vida pública impunimente? Como tolerar o intoleravel do fato de tal asquerosa figura ocupar o troninho da presidencia da republica como uma caricatura de ditador, dando claros sinais de sociopata?
Parece que finalmente chegamos ao fundo do poço da política institucional...
quarta-feira, 15 de abril de 2020
REFLEXÕES SOBRE O BRASIL DO CORONA VIRUS IX
No Brasil do corona virus, não foi apenas a narrativa economicista neolibetal que perdeu o sentido, também caiu por terra o ufanismo nacionaljá tá do discurso desenvolvimentista como eterna apologia do grande país do futuro.
Resta em cena o grito rouco dos inconformados e pessimistas avessos a fórmulas acadêmicas e delírios ideológicos, seja de esquerda ou de direita que sempre denunciaram a realidade indecente de um país sem povo e sem chão a deriva na aldeia global.
REFLEXÕES SOBRE O BRASIL DO CORONA VIRUS VIII
O Auxilio Emergencial de 600 reais oferecido de má vontade pelo governo,em tempos de Pandemia, para aqueles que vivem a margem da ficção nacional, tornou-se para muitos um pesadelo burocrático.
Não são poucos os que até agora amargaram em filas sem ver a cor do benefício devido às falhas no sistema e pendências burocráticas. Afinal, o governo não da nada de graça aos seus contribuintes, exige sempre sua cota de humilhação e sofrimento.
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