Em terras tupiniquins certamente
não se vive segundo padrões mínimos de civilidade e dignidade humana. Isso
vale, certamente, para a maioria da população. Principalmente nos grandes
centros urbanos, onde o acesso a alguns serviços elementares como saúde,
educação de qualidade, saneamento básico, segurança, dentre outros, deveriam ser uma realidade
acessível. Segundo o discurso oficial dos gestores públicos, todos os esforços
são sempre dirigidos neste sentido.
Nada mais natural do que supor,
portanto, que o modelo de administração
pública, gerido por políticos profissionais, revela-se viciado, ineficiente e
pouco comprometido com a garantia de direitos. As razões para sua
desfuncionalidade são diversas. Passando por corrupção, má administração ,
despreparo profissional e compromisso com grandes interesses econômicos
corporativos.
Mas é redundante repetir o obvio
e tão decantado eterno problema da insatisfatória
garantia de direitos básicos e elementares a maioria da população. Entra
governo, sai governo, e nada muda, mesmo que todos os políticos consagrados
pelo sufrágio, independente do aspecto ideológico, sempre ofereçam e prometam
realizações miraculosas neste campo.
Vivemos em um tipo de sociedade onde as respostas não são simples.
A demagogia dos discursos políticos estabelecidos, demasiadamente presos
a formula partido como espaço de gestação de politicas publicas, vem se
revelando uma estratégia estéril e já
desgastada. Elitista por definição, os partidos políticos vivem em função de
sua sobrevivência e compromisso com o jogo do poder institucional. Diante dos
tantos escândalos de corrupção que marcaram os últimos anos, os partidos
políticos e os políticos de carreira, são objeto de desconfiança e ceticismo
muito bem merecidos.
Por outro lado, sua sobrevivência
assegura-se pela aparente falta de alternativas
a velha pratica e formas de gestão e organização do espaço público em
seu sentido mais amplo. Tal consensual vazio de alternativas sustenta o quadro de desfuncionalidade elementar da pratica politica aqui muito sumariamente definido.
Seria prematuro oferecer soluções
teóricas deslocadas da realidade concreta. Pode-se mesmo dizer que, até o
momento, alternativas apenas se esboçam, mesmo de forma muito tímidas, na
contestação libertária do velho ordenamento
politico-Estatal. Inspirada pelo horizonte da auto gestão e de formas não
hierarquizadas de organização e intervenção no espaço público ela , até pouco
tempo, não existia. Produto da própria crise do poder, hoje tal perspectiva apenas nos apontam para um futuro ainda não muito
claro, embrionário, que pode levar a flexibilização da representação politico
partidária através de candidaturas independentes ou através de um peso maior as consultas
populares na gestão da vida pública. Para os novos anarquistas , o que é certo,
é que velhas praticas e formulas do poder já não nos satisfazem mais na
contemporaneidade. O que por si só justifica o esforço ousado da imaginação
criadora para trilhar, a longo prazo,
qualquer mudança que ainda nos pareça impossível.
Assim, fala-se muito de uma crise de
representação como se esta não passasse de uma ausência de novas lideranças
oligárquicas ligadas aos enunciados convencionais do poder capazes de propor e
construir alternativas. Mas tal crise de representação pode ser lida também
como uma crise do próprio poder, da
própria esfera pública, fundada em
instituições e práticas de representação inspiradas pelo modelo Estado Nação.
Se para alguns, a critica
libertária parece utopia, para outros, é a própria politica representativa que
se revela monstruosamente ineficaz, problemática e incapaz de corrigir-se,
perpetuando um jogo de poder elitista, baseado na hegemonia de oligarquias
atreladas a interesses corporativos e bem sintonizadas como o poder econômico. O realismo, portanto, não parece uma
alternativa a ”utopia” ....