POUCO IMPORTA O ANO NOVO

Pouco me importa

se amanhã é ano novo.

Não será um novo dia

o início de um novo tempo 

ou a apoteose da mais radical e pura rebeldia.

Será apenas uma data vazia e sem vida

nas grades das agendas e calendários.

Mas, enquanto isso,

Espero  e invento em segredo  algum fim do mundo,

a ruína do capitalismo, do eurocentrismo

e de todas as formas de servidão, exploração e  Estado.

Imagino o  tempo de todos os tempos,

o fim da escravidão dos salários,

do industrialiamo, economicismos  e elitismos do Capital.

Por tudo isso,

pouco me importa,

se amanhã é ano novo,

data consagrada a hipocrisia 

da confraternização universal.

Além disso,

em qualquer cenário possível

ou,até mesmo, ideal e improvavel,

a vida permanece sendo um  problema sem solução.

O TEMPO CONTRA O ESTADO

Reis, tiranos,

legisladores e juristas

não são eternos.

Morrem um dia

como toda ditadura e

democracia 

não duram para  sempre.

Toda forma de poder apodrece,

desaparece.

Nenhuma ordem, sociedade ou império

alcança a eternidade.

O tempo é o pior inimigo

da lei e da ordem,

do Capital e do Estado.

Pois tudo nele é provisório e inconstante

como a vida que nos devora

e move em permanente e impertinente revolta

contra toda forma de poder soberano.

O PODER É PODRE

O poder é podre

e apodrece o que envolve,

quem envolve,

através de seus

relacionamentos entre senhores e escravos,

através de toda forma de Estado.

Não se deixem enganar.

O poder jamais é justo ou bondoso.

Ele é  corrupto, moralmente duvidoso,

e, de todas as maneiras, divinamente  monstruoso.

O poder é  podre, apodrece

e nos faz desiguais.

 

NÃO IMPORTA O RESULTADO DAS ELEIÇÕES

Não importa quem disputará as eleições.

Os ricos serão sempre os grandes vencedores do pleito,

os que mandam no executivo,

no legislativo e no judiciário.

A república não passa, afinal,

de uma plataforma de negócios,

de um modo de alguns poucos

ganharem muito dinheiro

as custas do sacrifício do povo.

Não importa quem disputará as eleições.

O resultado do pleito

beneficiará os espertos,

demagogos e ladrões.

Não espere nenhum respeito

do nosso  Estado

democrático de direito,

seja do seu lado esquerdo

ou do seu lado direito

ele é um antro de embusteiros e falastrões.

A SOCIEDADE CONTRA O ESTADO

Quando algum dia

nossa luta avançar

e ameaçar de morte a ordem vigente,

o Estado, em franca reação,

há de nós prender e eliminar

sob um sol de meio dia.

O autoritarismo, afinal,

nunca sai de moda.

Principalmente nos tempos

de duvidosa democracia.

O que importará nestes tristes dias vindouros,

será nossa defesa encarniçada da sociedade,

será nossa capacidade de criar liberdades

 e afirmar a vontade popular

contra todas as oligarquias,

  Estados, deuses e hierarquias.

Assim, na contramão dos conformismos,

faremos todo poder desabar

frente a potência de nossa poesia.

TEMPO QUE PASSA

O tempo passou.

Pouca coisa mudou.

Apenas estamos mais velhos, descrentes e cansados.

Mas como sempre, seguimos,

terrivelmente indignados

na contramão dos fatos

e contra o Estado.

O tempo passou,

nosso salário continua baixo,

e o mundo, surpreendemente,

ainda não acabou.

CONTRA PODER

Todo poder nos obriga a desobedecer,

a querer outra vida,

outro mundo possível

contra os limites da realidade

e contra toda forma de opressão normativa.

Tenham sempre a coragem de questionar,

de afrontar, resistir e lutar.

Pois cada dia seguinte deve ser uma conquista,

um ato de criação e liberdade,

nunca um fardo , uma fatalidade

na banalidade do mal.

SOBRE AQUILO QUE IMPORTA

Pouco me importa o futuro do país,

a Razão na História,

as finanças do Estado,

ou a estabilidade oligárquica.

A vida econômica e nacional é de interesse exclusivo dos parasitas  que nos exploram,

 roubam e dominam,

em nome da saúde da indústria, do progresso

e do Capital.

O que me importa é que a existência 

seja para todos um sonho possível,

sem as autoridades e hierarquias

que alimentam  a perversidade de tantas desigualdades.

Pouco me importa o futuro do país,

a ilusão de nação,

sustentada pelo nosso sangue e

 exploração.

Nosso futuro há de ser radical.

Rasgaremos o tempo,

ocuparemos todos os espaços,

iremos além dos limites de qualquer revolução.

Ousaremos o além do humano,

inaugurando o crepúsculo de todo  maldito ideal de civilização.

POLÍTICOS PARASITAS

O parasitismo que define os políticos no exercício do mandato em relação a república não tem limites.

Quanto mais privilégios e verbas melhor. Eis o lema de senadores e deputados.

O fundo de financiamento de campanha, por exemplo , cresce sempre as vésperas de cada nova eleição. Não esperem que seja diferente em 2024 quando já se discute entre os parlamentares o aumento do uso de dinheiro público em suas campanhas.

Em um país de pobres e miseráveis a minoria de privilegiados que lhe governa é escandalosamente milionária e tem orgulho de ser parasita.

TODA REVOLTA VALE A PENA

Não importa se grande,

impotente ou pequena.

Toda revolta vale a pena

e acrescenta algo a mudança

que desabará sobre  nós amanhã.

O que não conta,

ou não importa,

é a obediência,

tudo aquilo que nos castra a resistência,

que nos conforma e apequena

diante do poder, da autoridade,

e suas doenças de agir e não ser.