quarta-feira, 31 de julho de 2024

POR UMA POESIA NIILISTA E ANARQUISTA

Minha poesia 
não é simbolista, parnasiana,
 modernista,
marginal
e muito menos concretista.

Também não é contemporânea,
nem frequenta salões e academias.

Minha poesia é suja, vadia,
confusa, louca,
nômade e anarquista.

Em uma só palavra,
Insubmissa.
Ela é franca inimiga de regras, Estados e hierarquias.

É um silêncio que grita
através dos meus atos.

Pois faço versos para comover o inferno,
para me libertar da linguagem,
 de mim mesmo ou de todas as identidades.

Escrevo como quem morre
e alucina
ameaçando atear fogo
ao próprio corpo
logo ali, depois 
da próxima esquina.

Escrevo como um radical niilista
na contramão da própria escrita
sempre fugindo de alguma polícia.



quarta-feira, 24 de julho de 2024

TODO GOVERNO É MENTIROSO

Todo governo inventa seu próprio país de faz de conta. Assim, sustenta e apregoa aos quatro cantos suas supostas virtudes e realizações duvidosas em nome dos interesses nacionais.

Todo governo mente sobre tudo e chama isso de propaganda.
Governar faz parte do mundo dos negócios.
O Estado protege, exclusivamente,
os interesses dos ricos.


Confesso que nunca vi um governo  honesto, que deixa-se nascer um povo
sob a bandeira do bem comum.

Todo governo reduz os corpos a categoria de população,
e tenta mante-los mansos e dóceis 
em nome da ordem e da razão.

Todo governo é um podre dispositivo de hierarquia e poder
que inventa a mentira de uma grande nação.






QUASE TARDE DEMAIS

Hoje é quase domingo, 
quase fim de ano, 
quase fim do mundo
 ou véspera de alguma guerra,
 pandemia ou tragédia ambiental.

 Hoje é quase tarde demais.
 Amanhã ninguém sabe. 
Esqueçam todas as notícias, 
mídias e formadores de opinião.

 Desistam de vez de todo humanismo,
antropocentrismo e racionalismo.
Esqueçam todo suposto progresso da humanidade.

É quase tarde demais para o dia seguinte.
Já é quase fim do mundo.




domingo, 21 de julho de 2024

CONTRA TODO CATECISMO

Aos pastores, professores,
políticos, 
psicólogos e policiais,
a toda autoridade que ousa querer 
guiar nossa vontade,
modelar nossa subjetividade,
aprisionar nossa consciência,
reduzindo nosso juízo a qualquer catecismo,
dedicarei alguns quilos 
do meu mais fresco e fedorento excremento.

Ninguém me dirá o que é verdade,
o que é sensato, 
moralmente aceitável,
ou desejável.
Não serei um bom elemento da sociedade.

Viverei além do bem, do mal,
e de toda falácia moral.

Serei a medida do meu próprio abismo 
indiferente ao precipício  de nossa  humanidade.

sábado, 20 de julho de 2024

TRABALHADORES

Como são conservadores
os trabalhadores de hoje em dia!

Servidores de um deus fascista,
vivem para o dinheiro, a pátria, a moral e a família.

Por alguns trocados
aceitam toda exploração 
legitimada pelo Estado
e exercida pelo patrão.

Lutam para sobreviver
sonhando com bens de consumo
e preferem morrer de fome
a produzir uma insurreição.

Como são covardes os trabalhadores de hoje em dia!







CAOS & FESTA

Amamos 
o desatino,
a baderna,
e a espontaneidade furiosa
dos amotinados.

Sabemos que a mudança
é filha do caos
que se impõe 
contra toda esperança.

Amanhã 
será quarta feira de cinzas,
mas hoje faremos nosso carnaval.
Seremos todos furiosas crianças.
Brindando ao caos contra a desordem dos ricos e poderosos.

terça-feira, 16 de julho de 2024

SAMBA E A DITADURA VARGAS

A ditadura protofascista varguista inventou entre nós o mito da democracia racial para maquiar o racismo nacional.
Era preciso enquadrar os negros em seu conservadorismo. Por isso domesticou o samba e o obrigou a abandonar a vadiagem e  a malandragem, o fez vestir verde amarelo.
Apresentou depois o carnaval para os brancos. Desde então o racismo aprendeu a sambar sobre os corpos negros que a polícia mata pra manter a cidade limpa e civilizada.
Vidas negras não importam, mas sambam felizes  na avenida.

sábado, 13 de julho de 2024

SOBRE A ANARQUIA QUE VIRÁ!

Apesar de todas as inércias,
impotências e comodismos eleitorais,
há entre nós alguns bravos, 
indignados e inconformados 
com tudo que atualmente se impõe como fato.

Para eles, não importa o governo
e a constituição,
tudo vai sempre mal onde 
mansamente servem ao Estado 
e obedecem cegamente 
a lei e a ordem do Capital.

Apesar dos tantos e mansos rebanhos
que embriagam e calam a multidão 
alguns ainda seguem resmungando e transgredindo na contramão.

Há entre nós, felizmente,
alguns poucos loucos e delirantes
 que  sonham honestamente 
com uma grande rebelião.

Contamos, não  duvidem,
com  sinceros revoltados
que ousam dizer não
e inventam contra todo circo midiático 
outra realidade,
outra forma de organização e sociedade.


Cotidiana e bravamente,
em suas  pequenas trincheiras 
eles apostam e aguardam,
contra todas as vanguardas,
 o porvir de uma grande  insurreição.

Acreditam sem fé ou esperança 
na festa dos grupelhos e párias 
que testemunharão a queda
da nossa república  autoritária e oligárquica
diante da soberania do sem nome da multidão.

Um dia seremos um povo
na autonomia e anonimato dos múltiplos rostos
que inventarão a ordem de uma grande e fecunda anarquia.

O mundo 
será, então, para todos
em uma terra sem amos
ou demagogos.








domingo, 7 de julho de 2024

URGÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS

Precisamos que as coisas mudem,
que algo grande aconteça 
contra a rotina, as leis e a ordem estabelecida.


Precisamos que outro dia amanheça 
sobre as ruínas da atualidade,
que um grito quebrei o silêncio,
as vidraças e a realidade.

Precisamos de um pouco de reflexão,
destruição e desrazão
para que possamos,
finalmente,
respirar um pouco de vida.

quinta-feira, 4 de julho de 2024

NÃO FICAREMOS SEGUROS

Não ficaremos seguros
 até que todos tenham garantida sua dignidade,
 direito a vida e a liberdade,
até que seja desfeito
 todo arbítrio e injustiça
 que pesa sobre a população desfavorecida.

Não  ficaremos seguros 
até  que seja
de uma só vez destruída
a perversa ordem capitalista,
desconstruído todo maldito progresso 
da humanidade.

 Tribunais e policias não nos trarão segurança ou justiça. 
Nada esperem do Estado, 
dos políticos ou dos vãs diagnósticos dos especialistas.

 Não ficaremos seguros 
até que seja superada 
a sociedade atual,
silenciados os ecos da modernidade 
fundada pelo extermínio, 
pela escravidão e por uma colossal injustiça social.




CONTRA O MUNDO ATUAL


 O mundo atual é racista,
 elitista, capitalista,
 cristão e genocida. 

 Todos os degenerados e despossuídos 
 odeiam o mundo atual
e anseiam por sua destruição.

Mesmo assim,
 persiste  vigênte e segura
a ordem estabelecida,
pois quase ninguém acredita
na destruição do mundo atual.
Amanhã não será outro dia.
Seremos todos enterrados pelo mundo atual.