VIRADA DO ANO

Nosso futuro é o lixo

acumulado na areia da praia 

depois da virada.

Nosso amanhã é um grito...

Depois, mais nada.

CONTRA O MILITARISMO

Tenho nojo de quem veste farda,

defende ditadura, tortura

e mata a serviço do Estado.

Tenho ódio de quem ama a nação

contra o povo

e apoia toda forma de privilégio,

poder, exclusão e opressão.

Merece minha mais profunda aversão

todo amante da guerra,

 do fascismo e da servidão.

PODER JUDICIÁRIO

Nunca espere nada da burocracia jurídica,

das pomposas cortes e imponentes tribunais de justiça.

A lei existe para punir e controlar pretos e pobres.

O poder inventa e sustenta a polícia e a justiça.

para manter privilégios e hierarquias.

A ordem produz o crime,

a prisão e a segregação, 

em nome de deus, 

do Estado e da razão branca.

Nunca espere nada dos tribunais de justiça.

CONTRA O AUTORITARISMO

O autoritarismo é uma doença grave.

Uma praga terrível em qualquer sociedade.

Não a dissemine,

fique longe dos iluminados, dos rebanhos

e dos moralistas.

Negue toda forma de dogmatismo e conservadorismo.

Erga sempre contra os fascismos e os stalinismos

 a bandeira negra da liberdade 

O MUNDO É PARA OS RICOS

O mundo é para  os ricos,

não para a maioria de despossuídos

que se vende por salário.

Por isso, o mundo é racista,

desigual e autoritário.

Não se iludam com idealismos ou com princípios humanitarios.

O dinheiro move tudo.

Devora vidas e recursos 

até o limite do insensato e do absurdo. 

O mundo é para os ricos...

DESEDUCAÇÃO FINANCEIRA

Para quem recebe salário de fome

educação financeira é lutar

contra a desigualdade e a exploração,

é não se curvar ao governo e ao patrão 

e apostar numa grande revolução.

Quem não é classe média branca

não tem dinheiro pra brincar de banco,

nem paciência pra escutar neoliberal falar de finanças.

NÃO GOSTO DE VERDE E AMARELO

Nunca jurei a bandeira,

não sei a letra do hino nacional

e não torço pela seleção.

Quando criança 

jamais quiz ser soldado.

Afinal, nunca fui burro.

Cresci com opinião própria 

sobre tudo.

Tive alguma educação.

Odeio guerras e ditaduras

e não obedeço sem questionar.

Por tudo isso,

não visto e nem gosto

de verde e amarelo.

NOS TEMPOS DA DEMOCRACIA

Nos tempos, que dizem ser,

da democracia,

ninguém quer saber

como se vive,

existe ou resiste,

na periferia.

Afinal, cidadão é quem  nasceu branco,

ganha bem e ainda é  patrão.

Não quem se lasca de sol a sol

sem direito a nada

submetido a um regime de semi escravidão. 

A vida da gente nunca vira noticia.

Noticia é coisa pra gente rica

aparecer na televisão.

A gente só virá manchete

quando algum inocente 

encontra a morte na mão da polícia,

quando vira dano colateral e estatística.

É assim que acontece nos tempos,

que dizem ser, da democracia.

 

TODO PODER É MALDITO

Todo poder é maldito.

Seja ele executivo,

legislativo, judiciário 

ou divino.

Todo poder é maldito,

como todo Estado é assassino

e  sempre seremos subversivos.

LEI, ORDEM E JUSTIÇA

Apenas pretos e pobres nascem condenados a lei e a ordem.

Para os brancos e ricos

a justiça é questão de política,

jamais  caso de polícia.

É por isso que

 juiz vende sentença 

 e há tanto tráfico de influência.

A lei é só para os pretos,

a ordem é só para os pobres.

Os brancos  decidem  a  justiça.

LIBERDADE DE OPINIÃO

Na era da informação 

a classe média, branca e ilustrada,

não é mais senhora da opinião.

A opinião agora circula  pelas telas e janelas das periferias,

livre dos jargões e erudições

da academia.

Através do ciberespaço 

cada vez mais os debaixo

aprendem a pensar 

contra os de cima

e contra toda hierarquia.

A razão não é mais para poucos

em tempos de informação.

QUESTÃO DE SOBREVIVÊNCIA

Todos precisamos de um sustento.

É uma questão de sobrevivência.

Nascemos despossuidos,

condenados a empregos de merda

e salários de fome.

Assim, nos alimentamos, diariamente,

do lixo dos ricos,

dos restos da mesa dos que vivem de herança, exploração e renda.

Mas um dia a fome será  tanta

que comeremos os ricos,

também, 

por uma questão de  sobrevivência.

SOBRE O GOLPISMO DO 8 DE JANEIRO

A tentativa de golpe de Estado do 8 de janeiro é um episódio asqueroso e repugnante que revela o quanto a extrema direita é perversa, escrota e assustadoramente autoritária. 

Não se pode reduzir a um caso de aberração ideológica o planejamento perverso da execução  do presidente, vice presidente  eleitos em 2022, além de ministros do supremo demonizados pelos extremismo conservador.

Trata-se antes de tudo de um caso de autoritarismo explícito que até pouco tempo nos parecia impossível no atual cenário político tupiniquim.

Estávamos errados e o exército, enquanto instituição da ordem, está profundamente comprometido com o passado, o presente e o futuro de uma alternativa autoritária.

Não podemos minimizar o episódio, deixar de identificar e responsabilizar os envolvidos, principalmente aqueles em posição de poder e tidos como intocáveis.

É preciso combater com firmeza toda forma de autoritarismo e conspiração envolvendo a possibilidade de uma nova ditadura militar e  genocida.

Por isso é impossível normalizar o bolsonarismo. Temos ódio e nojo a ditadura, para lembrar a frase emblemática de Ulisses Guimarães, mas cabe acrescentar, mesmo que certo autoritarismo seja perpetuado pelo abstrato Estado democrático de direitos de vocação liberal.

OS BRANCOS INVENTARAM O NEGRO

Os brancos inventaram o negro

para domesticar os pretos,

naturalizando hierarquias, racismos e desigualdades,

preservando, assim, a herança maldita do cativeiro.

Os brancos inventaram o Estado nação,

o mito das três raças,

as luzes da razão branca colonialista,

para que os pretos fossem parte de um passado branco e supremacista.

Os pretos só inventaram a resistência,

a revolta, a liberdade e todos os abolicionismos na  contramão da modernidade.

NINGUÉM ACREDITA EM GOVERNANÇA GLOBAL

Ninguém acredita nas resoluções do G-20,

na globalização econômica,

na ONU, na cúpula do clima, dos povos,

ou nos tribunais internacionais.

Ninguém acredita na ordem mundial,

no capitalismo,

nas economias emergentes

ou nos donos do mundo.

Ninguém acredita em governança global.

CONTRA TODOS OS GOVERNOS

Governos não servem ao povo,

não mudam a cidade,

o Estado ou o mundo.

Governos mantém a ordem

reduzindo vidas a algoritmos,

realizam grandes negócios 

contra os interesses públicos.

Governos não são transparentes,

nem democráticos.

Não passam de arranjos oligárquicos

a serviço de  interesses obscuros.

Por tudo isso, não serviremos a nenhum governo,

seremos desde sempre desobedientes, 

ingovernáveis 

e, terrivelmente, libertários.

ACREDITO NOS INSURGENTES

Acredito nos insurgentes,

nos que não tomam a realidade

como um dado estabelecido e imutável

e nunca se calam frente a desigualdade e a injustiça.

Acredito nos que questionam, 

duvidam,

nos que se afirmam descrentes

e se voltam contra tudo que é normal e decente.

NOVA REPÚBLICA VELHA

A república é corrupta,

oligárquica , impopular.

Ela é de quem pode comprar,

mandar e roubar,

dentro da ordem e acima da lei.

A república é para quem tem vintém.

Não serve a quem só tem direitos,

aos que são  ninguém.

A POLÍCIA MATA NEGROS E POBRES TODO DIA

A polícia mata negros e pobres todo dia,

protege o patrimônio dos ricos,

reprime protestos,

promove políticos e assassinos.

A polícia fomenta o fascismo,

o racismo  e o elitismo

servindo de cão de guarda do Estado,

perpetuando militarismos e autoritarismos.

A polícia mata negros e pobres todo dia.

Sua farda está sempre manchada de sangue.

A NOVA VELHICE

Envelhecer não é o limite.

É preciso permanecer jovem e produtivo

contra o peso dos anos.

É preciso estar sempre saudável,

ser um elemento ativo para o bem estar neo liberal.

Não importa seu mal estar.

Consuma remédios, pague médicos,

produza, investa, 

jamais sonhe em se aposentar

ou se dedicar a si mesmo.

Envelhecer não é o limite.

É sempre tempo de viver

para ganhar mais dinheiro.

SOBREVIVER

Sobreviver não é se manter com um salário quase miserável,

Comprar comida,

Pagar tributos,

ter um teto 

e ir a missa.

Sobreviver não é isso 

É não ser conformista.

É querer uma coisa que não se compra

nem se ganha.

É sonhar e exigir outra vida

ou uma realidade menos morta.

A VIDA É UM LUXO...

Não posso pagar pela vida

que eu deveria viver.

Posso apenas sobreviver

a existência que me foi possível,

suportar a realidade que me foi imposta,

sonhar com um futuro que nunca será

Imaginando um mundo que não pôde ser.

Por não poder pagar pela vida

fui privado do direito de ser,

me tornaram invisível através de estatisticas.

A vida  é um luxo reservado a poucos.

Não é suficiente querer pra se ter.

.

PROTESTO

Erga seu punho fechado

contra o poder, a moral,

a autoridade e o Estado.

Comece agora um protesto.

Quebre o silêncio.

Escreva um manifesto.

A rua é nossa.

A hora é agora.

Ponha-se em movimento.

Caminhe na contramão do vento

escrevendo sua própria história.

Tudo está por ser inventado, 

feito ou realizado.

NA CONTRAMÃO DOS REBANHOS

Nunca serei  militante,

 submisso a qualquer organização coletiva

ou ideia pronta

sobre o que deve ser a vida.

Pois, antes de tudo, sou niilista,

um individualista errante

contra todos os rebanhos

e armadilhas coletivistas.

Mas sou, também,

sinceramente, fiel ao povo,

que me inventa ausente

e me faz ser entre os outros

um inspirado insurgente

CONTRA TODO NACIONALISMO

Quero  queimar na praça

ou descartar na privada

a bandeira nacional.

Não me servirão de nada

as cores de nação.

Pois, muito em breve,

 sairei sem rumo 

pelo mundo a fora

para estar em todos os lugares

e em parte alguma.

Serei um errante marinheiro

lendo estradas no céu,

abominando  Estados,

pátrias, fronteiras, fascismos

e todas as formas de autoritarismo

e fundamentalismo político.

Minha vocação é ser livre de todo poder soberano.

NUNCA FUI MODERNISTA. NÃO SOU HERDEIRO DE 22.

Não sou herdeiro da semana de 22, 

não reverencio os vanguardistas 

 que sucumbiram ao fascismo varguista,

que reinventaram a literatura e a nação 

com as benções da elite paulista.

 Nunca estive entre os nacionalistas,

 idolatras da língua pátria.

 Minha escrita é uma navalha

 contra o canto das três raças,

contra o modernismo de Estado,

contra o ego dos literatos,

manifestos desvairados e populismos  de salão.

JUSTIÇA PARA TODOS

Queremos justiça.

Mas não a duvidosa justiça 

do pequeno e urbano burguês,

defensor da ordem e das leis.

Queremos justiça 

contra o Estado, 

 contra os privilégiados,

contra todos os políticos,

 magistrados e seus aliados.

Queremos a justiça da multidão,

das ruas, dos revoltados

e amantes da revolução.

O MUNDO É...

O mundo é dos racistas,

dos sociopatas que vestem fardas,

dos bandidos de terno e gravata,

de todos os populistas,

mestres da patifaria, 

 inimigos da periferia. 

Ele pertence aos espertos e aos perversos

antagonistas da liberdade e da anarquia.

O mundo é dos ricos, dos políticos,

dos que destroem o próprio mundo

pelo absurdo do poder e do lucro. 

O mundo é  para poucos

e contra todos que o habitam.

III FEIRA ANARQUISTA DO RIO DE JANEIRO ( QUASE UMA CRÔNICA)

Hoje, nesta tarde nublada de sábado, passei pela III Feira Anarquista do Rio de Janeiro, de modo  apressado e meio cansado, entre passados, presentes e futuros ausentes na intuição do intempestivo e do irreverente...

Significativamente o evento de contra corrente, ocorrido no bairro singular de Vila Isabel, em um Centro de Cultura Social, foi uma encruzilhada de gerações e imaginações que inventam em segredo um mundo novo em seus insubimissos corações rebeldes.

Alguns coletivos e debates deram o tom do momento,  onde ainda nos falta um povo, barricadas e desejos, contra a realidade, contra o que nos tornamos como sociedade e contra o Estado que legítima toda opressão e desigualdade.

A temática desta edição da feira foi o repúdio a memória  da hoje envelhecida ditadura militarar, surpreendentemente  atualizada pelo espectro dos novos fascismos de uma renovada e global extrema direita,  mas também pelos  limites do progressismos e vanguardismos de uma "extrema esquerda" autoritaria, defensora da hegeliana Razão na História.

Nos falta hoje, contra tudo que é moderno, uma visceral provocação libertária , uma recusa, silenciosa ou não, da prisão absurdamente cotidiana e normalizada do ditadorial "para sempre" dos efêmeros tempos de agora...

Nos falta uma contundente resposta aos nossos eternos e supostamente absolutos passados.

MARGINALIDADE

Para os que não  são bem nascidos,

viver é um ato de resistência contra a cidade,

 contra o Estado e a própria humanidade.

Para os que vivem a margem,

não basta querer um lugar no mundo.

Pois todo mundo sabe

que para nós não existe mundo

e a única escolha

é enfrentar com ferocidade nossa atroz realidade,

afrontar toda hierarquia e desigualdade.

JOVENS CONTRA A HISTÓRIA

Não somos filhos do passado

ou arquitetos do futuro 

Somos apenas vitimas do presente.

Nosso tempo é nunca.

Não temos história.

Não cultivamos tradições, memórias,

nem  nos seduz a ilusão da ordem e do progresso.

A vida é um inútil exercício de tempo 

fadado ao insucesso.

Pois a eternidade é deserta

e nosso amanhã é incerto.

CONSPIREM!!

Conspirem contra o Estado,

o capitalismo e o cristianismo.

Criem coletivos em todas as partes.

Estejam sempre juntos,

conectados.

Todo tipo de performance é útil.

Cada corpo é uma bomba

ou um foco de incêndio.

Inventem guerrilhas no vento.

Pois, protestos não mudam o mundo,

mas transformam a realidade

pondo a vida em movimento.

Conspirem, quebrem  o silêncio!

CIDADE DOS MORTOS

Na cidade tudo tem preço.

Nada tem jeito. 

Nela se compra,

se toma, se come,

se rouba.

Na cidade só vence quem tem dinheiro

ou  quem é sem vergonha, sem alma,

sem honra e sem medo.

A cidade é onde se mora,

se sofre, se chora e se morre.

É onde cada um se enterra

no silêncio de sua própria história.

O BRASIL DAS APOSTAS

No Brasil das apostas, jogo do bicho e das loterias, tudo o que importa é o dinheiro fácil.

A ambição contamina os sonhos quando a miséria esvazia a realidade em um país de endividados.

O resto é lavagem de dinheiro, corrupção, enriquecimento ilícito  e ostentação de "novos ricos".

Afinal, quem tem dinheiro para apostar em cassinos?

QUAL O PREÇO DA REPÚBLICA?

 Quanto vale o voto,

quanto custa

uma campanha eleitoral?

Qual o preço de um mandato de prefeito ou de vereador?

Quanto vale a obra superfaturada,

a verba desviada

e a falta de vaga na creche e no hospital municipal?

Qual o preço da república?

Quanto vale a democracia?

Quanto ganham suas oligarquias,

quanto perde o povo,

como vai a carestia?

A MISÉRIA DO CONFORMISMO

Ninguém quer arcar

com  o desconfortável esforço 

de transformar o mundo.

Ninguém quer tentar,

pagar o preço,

tornar-se responsável 

por si mesmo,

pelos outros,

pelo caos e pela incerteza

de outros modos de vida.

Todos preferem a prisão 

de suas rotinas,

a segurança da mediocridade

de poder  ser alguém na vida.

Ninguém quer mudança 

ou ainda se espanta

com aquilo que nos tornamos.

Ninguém vale o que come,

o que sonha, caga ou vomita.

CIDADE E PERIFERIA

Não sei a cidade dos bairros

 sofisticados de classe média, 

do carão postal, dos escritórios e negociatas.

 Sei a cidade das periferias, 

dos que não tem vez, 

dos que sobrevivem por teimosia. 

 Não me move

 qualquer ideal burguês

 de família e prosperidade. 

A cidade que me acolhe os pés 

é tribal e selvagem

 desafiando a razão dos urbanistas.

NÃO IMPORTA QUEM VAI GANHAR A ELEIÇÃO

Não importa quem vai ganhar

a  eleição.

Perderemos todos enquanto povo.

Pois, a política serve a mentira

na língua dos tribunos.

Ninguém nos representa

nas urnas.

O voto, em resumo,

 é uma lamentável ilusão 

que prospera onde falta um povo,

onde se  afirma nossa vocação a servidão

contra a autonomia que aprendemos nas ruas.

LIBERDADE E REVOLTA

A revolta, 

é uma condição instintiva,

uma necessidade

de todo organismo

que se auto afirma

em um ambiente que o abriga,

estimula, nega e ultrapassa.

Revoltar-se

 é governar a si mesmo

e ser entre os outros em liberdade

contra o obscurantismo de toda autoridade.

Revolta é vida!

LUTE PELA REVOLUÇÃO, SEJA UM CARBONÁRIO !

Cadeia existe

para pobres, pretos e pardos.

Mas tudo é permitido aos brancos e abastados.

Pois manda no mundo quem tem dinheiro,

quem  controla o Estado.

Por isso não  há justiça 

para os que  nasceram condenados

a viver de salário

sob o peso  do status de quase escravos.

Por isso, 

lute pela revolução,

contra a exploração

 e a prisão.

Seja, cotidianamente, um carbonário.

ALÉM DO HOMEM E DA CIVILIZAÇÃO

Estados e governos

são regidos pela ambição dos ricos.

Não confie nos políticos,

nas autoridades públicas

na república ou na representação.

A democracia é uma ilusão.

O povo só conta com o povo

e sua força é a vida das ruas.

O novo sempre se insurge

 a margem de tudo.

Mas mudar o mundo

exige mais que uma revolução.

É preciso superar o homem

e sua civilização.

JOVENS INSURGENTES

Jovens insurgentes,

desescolarizados,

crescem a margem

de qualquer futuro.

São por instinto

avessos ao Estado,

políticos, policiais,

professores e magistrados.

Sabem as ruas

contra a  lei e a ordem,

o Capital contra o Trabalho.

Não reivindicam cidadania.

Mas,acima de tudo,

almejam ser livres

contra um mundo feito 

para abastados e oportunistas.

A LUTA, O LUTO E O ABSURDO

Eu ainda durmo,

 ainda sonho

e ainda luto,

apesar de tudo.

Mesmo quando tudo

não leva a nada

além da manutenção do absurdo.

O mundo não cabe na palma da minha mão 

e a luta tem sido inútil.

Tudo demora em ser

deveras o sempre

de um velho absurdo.

No fundo, em segredo,

estamos todos de luto

pelo mundo.

NAÇÃO E LIXO

O país produz lixo

preconceitos,

 desigualdade,

morte e racismo.

O país é o proprio lixo

que produz e o devora

enquanto somos embriagados

com o veneno do patriotismo.

A nação é um grande lixão.

A MORAL DO FIM DO MUNDO

Alguma moral banal

anima os grupelhos,

rebanhos e solitários 

reformadores do mundo.

Uma moral brutal,

onde dorme algum autoritarismo,

um mundo perversamente  ideal

onde tudo será perfeito

e a vida terá solução

por bem ou por mal,

pois é preciso salvar

a humanidade

e fazer triunfar a verdade

a qualquer custo.

A PERVERSIDADE DO PODER

O poder apodrece tudo

que toca.

É uma ameaça a vida

através do veneno

das hierarquias,

desigualdades,

e obediências.

É o que estabelece o  julgo e dominação

através do autoritarismo e da

 truculência,

que vida nossa total  obediência.

O poder é tudo

que mata

para administrar a vida.

AQUI, ONDE A GENTE EXISTE

Tem gente,

uma mais diferente

que a outra,

em todas as partes,

menos aqui.

Tem gente

fazendo o mundo,

acontecendo

de todas as maneiras,

menos aqui.

Aqui nunca tem ninguém.

Nada acontece.

É como se no mundo

não houvesse gente,

é como se a gente

não fosse gente.

TODOS PRECISAM DE DINHEIRO

Todos precisam de dinheiro 

para ter um lugar no mundo.

 Por isso, cada um de nós tem um preço. 

"-Acima de tudo,

é preciso sobreviver."

Justificam os pragmáticos.

" Todo mundo faz o que é preciso

 para ter o que comer."

Indossam os desesperados.

Enfim, todos precisam de dinheiro.

Mas somos, no fundo, conformadas prostitutas

em nossas horas de labuta,

reduzindo tudo a necessidade de dinheiro.

Afinal, qual é o seu preço?

Quanto te custa

um pouco de vida

ou onde te leva o dinheiro?

A MORTE DO MENINO FRAGELADO

A noite devorou o sonho

do menino fragelado.

que dormia ao relento

ali perto do lixo.

Ele nunca mais sonhará

com a mãe morta,

não passará mais fome,

nem se revoltará 

contra a truculência da polícia,

do segurança do bar

ou com o desprezo asqueroso daquela gente branca e esnobe

do prédio chique do fim da rua.

Nunca mais ouviria a voz

da velha beata

que lhe falava do inferno

e lhe  odiava por não ter nada.

Hoje,

o menino não acordou.

Morreu de frio.

Mas já estava doente.

Todos sabiam.

Ninguém se importava.

A noite o levou embora

de um mundo

que não o queria,

que lhe desprezava,

e não reconhecia nele

uma vida.

O menino morreu,

mas não de frio 

como disseram 

os bombeiros

que recolheram o corpo

como se fosse lixo.

Foi, ao contrário,

um caso de homicídio,

cometido por todos

e por ninguém.

CONTRA TODO GOVERNO

Todo governo mente.

Todo governo reprime,

silencia e prende

toda iniciativa insurgente.

Todo governo demanda idolatria 

e servidão voluntária 

contra a liberdade e anarquia

que inspira a multidão revolucionária.

Todo governo teme e treme

frente aos maltrapilhos rebelados

que afrontam o poder

e desafiam o Estado.

O ESTADO PROTEGE O CAPITAL

O Estado protege o Capital.

Sempre garante bons negócios.

Todo governo

é cúmplice dos poderosos.

Não importa a ideologia.

Governar, afinal,  é administrar

a ordem estabelecida.

Destruir toda poesia 

Hoje a terra queima.

O fogo come o verde

em permanente meio dia.

Já é quase fim do mundo.

Mas seguimos inertes

entre rotinas, ruínas

e melancolias.

Pois o fogo, agora,

 é o novo normal.

O Estado protege o Capital,

e o desenvolvimento nacional.

Jamais há de ceder autonomia

as nações ameríndios

senhoras de nossas florestas

e inimigos do Capital 

CANSAÇO E FIM DO MUNDO

Estou cansado do trabalho,

do descanso, do sono,

da fome,

do calor,

da cidade e do trânsito.

Estou cansado dos políticos,

dos bandidos, da polícia,

do custo de vida

e da insegurança pública.

Estou cansado do amor,

da família, da fé,

 da mentira

 e da nossa maldita república.

Estou cansado de uma vida insípida

que  me leva a uma morte estúpida.

Sim...Estou cansado,

quase farto de tudo,

justo quando parece.

que estamos finalmente

quase as vésperas de algum 

bem vindo fim do mundo.

O INSUGENTE

Nenhum deus

ou governo

há de me impor

 qualquer forma de vida.

Não existo

como exige o rebanho

e pouco me importa 

a  lei, a  ordem

e as autoridades estabelecidas.

Abomino todas as identidades,

princípios e verdades

que nos inventam a realidade 

Existo em estado de marginalidade selvagem

e desobediência ativa.

Não me sujeito,

nem  assujeito.

Respirorevolta,

sou filho da  rebeldia.

CULTIVAR A IMPOTÊNCIA PARA TRANSFORMAR A VIDA...

O anarquismo específista é tudo o que hoje tem alguma visibilidade no movimento anarquista ou entre os coletivos e indivíduos cujo agenciamento político passa por uma perspectiva revolucionária e franca aposta na ruptura com os valores e estratégias de subjetivação proporcionados pelo ethos neo liberal hoje hegemônico.

Mas tal anarquismo, que se insere em uma velha tradição ou cultura de esquerda, inspirada por um militarismo ou engajamento devoto e religioso, conduz inevitavelmente a um certo vanguardismo e elitismo que, na prática, não nos mobiliza criativamente como demiurgos de nós mesmos, mas nos reduz a uma bolha ou a igrejinha onde se reproduz a carcomida e desgastada fórmula de "poder popular" que ainda alimenta as ilusões de uma classe média urbana decadente.

No final das contas, frente a atual ofensiva conservadora, diante da disputa por hegemonia entre uma extrema direita fascista e uma direita moderada e liberal, no contexto de uma crise e reestruturação do capitalismo frente a hemergência climática e a falência do modelo pós industrialista.

Tudo que temos , em meio a esta disputa entre as facções oligárquicas dominantes, no fundo, é a desmobilização e a impotência das multidões ou sua franca e ampla captura pela pauta conservadora em tempos de novas tecnologias e sensibilidades.

Sim. Estamos perdendo. E os relativos e timidos sucessos eleitoreiros do progressismo ou da chamada esquerda institucional, não passa de expressão de uma relativa e frágil hegemonia de uma direita moderada e liberal cada vez mais ameaçada pelo avanço fascista.

Romper com o lamentável e perigoso quadro atual significa buscar novas formas de mobilização e ação, materializar outras estratégias de existir e criar novas modos de viver e conviver em nossos pequenos  locais de ambiências, nos espaços e territórios de  produção cotidiana da vida.

Não existem soluções ou respostas mágicas. Mas nosso modesto ponto de partida deve ser assumir nossa própria impotência, sentir os limites de nossas correntes e e criar possibilidades de fugas e resistências. 

Somos parte da miséria e da decadência de um mundo moribundo, mas também somos aqueles que cultivam a sincera intuição de um outro e hoje ainda improvável futuro revolucionário que já desafia as gerações futuras.

É urgente reaprender a respirar...

O FASCISMO É A PESTE

Sob o apelo a segurança pública 

insinua-se um estado policialesco,

a militarização do cotidiano,

a segregação, 

o estigma do outro

como mal social.

Estimula-se o totalitarismo

da união nacional.

A cruzada contra os inimigos públicos,

a repressão aos subversivos,

 aos criminalizados e perigosos

adversários da ordem moral e do Estado.

O fascismo se torna, assim,

cada vez mais, entre os acéfalos e canalhas,

uma opção banal e

e aceitável.

Comemoram os racistas e sociopatas,

defensores de deus,

da pátria e da família,

a boa nova da barbárie 

que  anunciam.

Sob o apelo do bem contra o mal

prometem uma nova inquisição,

campos de concentração ou, como dizem, de recuperação.

Pois já ultrapassaram a banalidade da mais crua perversidade da qual é capaz nossa odiosa humanidade.

O fascismo é a grande peste

de uma sociedade moribunda e fedorenta que apodrece.

DITADURA, ESCOLA E SETE DE SETEMBRO

Nos anos da ditadura

era regra nas escolas privadas e públicas 

o ridículo desfile cívico

do sete de setembro.

Idolatrava-se a bosta da ideia de pátria,

num país no qual o Estado matava,

o P.I.B. crescia,

a miséria galopava,

todos torciam pela seleção 

e  ninguém aprendia na escola

 o que era liberdade ou independência ou revolução .