NESTAS TERRAS DITAS OCIDENTAIS

Nestas terras ditas ocidentais,

a cidadania ainda é censitaria

apesar do sufrágio universal.

Pois, a República é para poucos,

brancos, machos, proprietários. 

Os demais, são os outros,

condenados a tutela do Estado e

a indignidade de um trabalho.

Nestas terras ditas ocidentais,

a população, reduzida a gado,

anda bem longe de se tornar um povo.

A RUA E A MARGEM

A rua é do povo, dos excluídos,

dos  inclassificáveis, dos fodidos,

dos descontentes, dos alegres,

dos resistentes e insurgentes.

A rua é o avesso dos palácios,

parlamentos e outras faces do Estado.

É onde a sociedade  respira contra o poder,

é onde enfrentamos a ordem e seus soldados.

A rua é a veia do desejo mais delinquente que existe.

O IMPERATIVO INSURGENTE

A margem da ordem vigente

alguém  sempre dançará  insolente 

 uma antiga e bela canção  delinquente.

Contra todo autoritarismo e desigualdade 

sempre existirão aqueles que dizem não.

Os que exigem uma solução do tamanho de uma revolução

para as dores dos povos e problemas do mundo.

 Existirá sempre no peito dos despossuidos, a intempestiva inspiração de um levante,

 de uma vontade ancestral e insurgente

contra o tempo e a razão da época vigente.

Haverá sempre entre os inconformados o vislumbre de uma grande transformação mais do que necessária e  urgente

contra o crepúsculo da civilização.

ENTRE A ESTUPIDEZ TRUCULENTA E O OPORTUNISMO GROSSEIRO

O que inspira o rebanho da estupidez é, em primeiro lugar, o autoritarismo. O prazer do mando e da obediência. O culto a tirania e o prazer da submissão é também uma defesa da desigualdade e da exploração de classe. Não  há como separar uma coisa da outra. 

No fundo, tudo se resume em  estabelecer ou manter privilégios e hierarquias. Não importa se as custas do bem comum.

 Os defensores do autoritarismo ambicionam sempre alguma vantagem, algum ganho perversamente egoísta. Nunca é apenas uma  questão de simples ideologia, truculência ou caricata ignorância. A dicotomia entre dirigentes e dirigidos assenta-se na diferença entre os que tem tudo e os que nada tem.

CORRUPÇÃO ESTRUTURAL

A corrupção é inerente as instituições modernas,

a cultura republicana e racista,

que nos reduz a população 

administrada e domesticada  pelo Estado.

A corrupção existirá enquanto for natural

a existência de dirigentes e dirigidos,

dominantes e dominados,

para a prosperidade de alguns poucos privilegiados.

A corrupção é a essência da acumulação capilatista,

que justifica a afirmação da autoridade, 

da hierarquia e do lucro desenfreado.

OS MANSOS INDIGNADOS DOS PROTESTOS BEM COMPORTADOS

Os mansos indignados dos protestos bem comportados

ganham as redes sociais e as ruas, em dias de feriado.

Defendem a democracia,

a economia, os santos, orixás e, até  mesmo, os policiais e o Estado.

Fazem procissão, notas de repúdio e abaixo assinados, por qualquer boa causa,

são quase todos brancos, de classe média, muito bem informados e remunerados.

Os mansos indignados dos protestos bem comportados

amam a ordem, o poder, o sufragio,

 o progresso e seu bom ordenado.

Não querem saber de revolução,rebelião,

 e abominam a truculência de um tal de proletariado.

A ANARQUIA COMO DEVIR CRIADOR

A anarquia é a ordem ditada

pelo devir da vida,

que nega a autoridade dos dominantes

 e  exausta a revolta dos dominados.

A anarquia é a trincheira da imaginação,

 da ação criadora, das práticas de  liberdade.

Ela é a grande vontade de mundo

 que supera  eurocentrismos, racismos, modernidades e colonialidades.

Ela é um cuidado de si e dos outros, 

uma contra cultura e crítica do presente, 

da cidade, da igreja e do Estado,

que, através  da natureza,

supera toda ilusão de humanidade.

O MUNDO QUE VIRA NOTÍCIA

O mundo que vira notícia

não é o mesmo em que vivo

Mas aquele que me nega como indivíduo,

que me reduz a força de trabalho e

a um conjunto de dados digitalizados.

O mundo que vira notícia 

é o do político, do empresário,

e do deficit primário.

É um mundo deteriorado,

triste e devastado.

Não é o mundo das periferias,

dos loucos, crianças e carbonários,

onde os fatos seguem na contramão do notíciario.

É PRECISO LUTAR

É preciso lutar,

derrotar a escória fascista,

sufocar o discurso moralista,

 militarista, punitivista, neoliberal e racista,

que na vida comunitária e cívica,

nunca  teve, nem terá lugar.

É preciso lutar,

seja por igualdade e justiça,

por outros mundos possíveis,

pelo direito a preguiça,

pela liberdade de ser e estar,

ou, simplesmente, por uma vida melhor.

É preciso sonhar  outro tempo e lugar,

apagar toda referência a ditaduras passadas e futuras.

Fazer brotar o sol do amanhã

e passear pela  lua.

PELA LIBERDADE E A ANARQUIA

Não acredito em valores universais,

no homem como abstração racional,

ou nas virtudes da democracia

onde toda desigualdade,

exploração e hierarquia,

são tidas como fenômenos naturais

ou situações inerentes a dinâmica  de nossas vidas.

Não acredito no individualismo liberal,

no Estado ou na luta do bem contra o mal.

Nenhum ordenamento social é fecundo

quando não inspirado na liberdade e na anarquia contra a anomia da autoridade

que rege o mundo atual.

A MALDIÇÃO DO TRABALHO I I

 Nós que nascemos sem berço,

que nada possuímos além de nossos corpos,

estamos condenados a necessidade e

ao trabalho

em um mundo feito para proprietários,

que enxergam o olimpo sobre suas cabeças e o inferno sob nossos pés.

Antes mesmo de nascer, estávamos fadados a sofrer e morrer em nome da ordem e do progresso nacional.

PODER JUDICIÁRIO

A sentença dos magistrados

é sempre boa para o banqueiro,

o empresário e o milionário.

A lei, afinal, é feita

para manter a propriedade e a riqueza

nas mãos dos descendentes de antigas nobrezas e senhores de escravos.

O poder judiciário é movido a dinheiro.

A prebe só tem lugar nos tribunais como servente ou ré.

NÃO SOU PARDO

Não sou pardo.

Minha pele não é de papel.

É estigmatizada, racializada

descriminada

de forma, muitas vezes,

cruel.

Minha pele não é meio termo

entre o branco e o negro.

Não é questão de cor.

É cultura, resistência,

revolta e postura.

Não sou pardo.

Sou insurreição,

autonomia, anarquia

 e  contra cultura.

SEM SAÍDA

A saída não está 

depois da porta,

nem em qualquer

outro lugar.

A saída não existe.

Nos resta, apenas,

seguir em frente

na contramão das coisas

Esperando a morte

ou qualquer redenção 

 contra o dia seguinte.

A vida é um problema sem solução.

NAZI SIONISMO

O Estado Nazi Sionista

mata todo dia na Palestina.

Mas o mundo segue em silêncio 

ignorando os mortos

 em nome de deus e da  história.

O Estado Nazi Sionista

acusa os defensores da paz e da vida

de anti semitismo

e, assim, fere de morte 

toda razão e humanismo.

CONTRA TODOS OS PARTIDOS

Não acredito em vanguardas,

 líderes carismáticos,demagogos,

populistas e iluminados.

Não espero,

nem reconheço 

messias e predestinados.

Só o povo inspira o povo

contra os ricos e privilegiados.

A multidão não é gado.

Não seremos manipulados

ou oprimidos pelo Estado.

A POLÍCIA NÃO SERVE A JUSTIÇA

A polícia não traz segurança,

nem garante justiça.

A polícia mantém a ordem 

contra pretos e pobres,

protege a propriedade,

está sempre do lado dos ricos.

A polícia mata,

ignora direitos.

Não raramente,

é arbitrária e conivente com o  crime.

A polícia não serve a justiça

e nos impõe sempre o risco 

do terrorismo de Estado,

da mais perversa militarização da vida.

Toda polícia é, inevitávelmente, fascista.

COMO SOBREVIVER?

A carestia nos obriga a morrer.

Afinal,como é possível sobreviver

com dignidade

massacrado pelo consumo

e pela propriedade?

Como é possível permanecer calmo e lúcido,

escravizado ao trabalho,

vigiado pelo Estado,

vendo nosso tempo

ser diariamente roubado

por um maldito salário?

Quanto custa, afinal,

sobreviver, 

onde tudo termina em angustia

e a vida é quase impossível de ser?

ANONIMATO ORDINÁRIO

Não sou meu saldo no banco,

meu  emprego de quase homem branco.

Não sou a conta da farmácia,

o medo do futuro

e a revolta de ser proletário.

Não sou esta vida

que me obrigam a perder

todos os dias em que me jogo fora

por um mísero salário.

Sou quem ninguém vê no trem

que segue lotado,

sou apenas mais um 

entre tantos otários.