terça-feira, 14 de junho de 2022

A TOLERÂNCIA E O INTEMPESTIVO. Edson Passetti & Salete Oliveira ( orgs.)

"Nosso tempo é pleno de prescrições, fronteiras,limites. Época em que a tolerância é incensada como a senha para a ' justa sociabilidade'. Mais do que  mera recomendação para o bom convívio entre homens e povos, aceitar-se tolerante é um imperativo, condição para ser reconhecido como vivo. Aquilo que escapa, que transborda ao campo demarcado dos direitos e dos alvéolos de liberdades mesquinhas, que nos é reservado, é visto como radical e perigoso. Quem se insurge e grita é insociável. Indesejável, intolerante. É identificado, localizado e encontra-se sobre a mira do Estado que aparta em nome da boa sociedade. Os monstros de agora são os intolerantes, e a sociedade tolerante não os pode tolerar.
A Tolerância e o Intempestivo é um livro de conversações entre pessoas com perspectivas diferentes, mas que não se satisfazem conformadas ao pluralismo democrático. Nele existem intelectuais que não visam o consenso, mas a batalha dos guerreiros, aguçando rebeldias. Tormentas sem direção ou prescrição atingem e problematizam as práticas de tolerância que atravessam as relações entre os Estados, as conquistas políticas, a definição de direitos, os modelos de educação, os discursos revolucionários, os campos de extermínio,  os genocídios e as obediências. O pulsar quase mudo das resistências emerge fazendo vibrar: as formas dos conformados não suportam o intempestivo das tempestades."

segunda-feira, 13 de junho de 2022

BREVE HISTÓRIA DO PLANO REAL

Criado durante o governo de transição de Itamar Franco, o Plano Real representou o fim da hiper infração e o início de uma relativa estabilidade política. Cinsolidou-se nos governos FHC, quando a pauta neo liberal de uma reforma conservadora do Estado abriu caminho para os governos lula e sua politica populista nacional desenvolvimentista. Diga-se de passagem,  tão neo liberal quanto a do seu antecessor. A falácia de um "brasil moderno" que ingressava no "primeiro mundo" não resistiu aos governos Dilma. A economia global não estava muito bem e a do Brasil seguia de mal a pior. Símbolo do neo populismo de esquerda, a Petrobras virou protagonista do desenvolvimento da corrupção no país da impunidade. Foi, então, a vez do Governo Temer lançar a ponte para o abismo  bolsonarista.   Fez-se de vez o caos, com direito a pandemia global e guerra na Ucrânia. A hiper inflação  bateu a porta da nação. Quanto ao plano real, virou história, memória. Mesmo que a moeda sobreviva, desvalorizada e com prestigio de dinheiro de brinquedo.
Ao longo deste período muitos novos milionarios e bilionarios surgiram no país enquanto a desigualdade e a miséria,  mesmo maquiada pelos anos de governos de centro esquerda, nunca parou de crescer no país do agro negócio em um mundo tecnológico.

DEMOCRACIA PARA POUCOS

Na democracia tupiniquim
mata-se ativistas,
negros, mulheres e travestis,
como em qualquer ditadura.

A lei existe para manter a ordem,
o controle da população. 
A justiça não garante a abstração de qualquer direito.

A democracia é apenas uma forma de controle,
um modo do Estado se impor
contra a sociedade e a cidade.

 Não somos gregos
e a república espera sempre
o rosto de um Cezar
para garantir o equilíbrio oligárquico
e a desigualdade como princípio. 




domingo, 12 de junho de 2022

APENAS UM DIA

Hoje será mais um dia precário,
esquelético e famérico,
na cidade dos mortos vivos.

Apenas um dia tóxico,
efêmero e sem sentido,
onde o sol nasce fora do céu;
um dia com cheiro de morte.





sexta-feira, 27 de maio de 2022

DESASTRE

A realidade deu em desastre. 
Um desastre cotidiano,
domesticado, 
transfigurado em fatos midiáticos.

Seguimos em frente,
 sem chão ou horizonte, 
 conformadamente indignados,
até o incerto limite do insustentável do desastre.

O fato é que não há palavras para dizer o desastre.
Há alertas de incêndio em todas as partes.
Mas ninguém enxerga a tragédia 
convertida em corriqueira e silenciosa banalidade.

No fundo, todos nós juntos,
somos o inominável deste desastre
que nos observa através do espelho do mundo
onde  não reconhecemos
nossa própria face.

Talvez, se quer faça ainda sentido
o uso comovido da palavra desastre.

quarta-feira, 25 de maio de 2022

O NOVO JOGO DO PODER OLIGÁRQUICO

Em pré no século XXI e na contramão de todas as ingênuas expectativas dos especialistas em politica institucional, o Brasil assumiu-se de vez como republiqueta das bananas. O desgoverno bolsonaro, afinal, foi palco não de uma crise institucional permanente, mas do clímax de uma repactuação corporativa em curso entre as facções oligarquicas dos "três poderes"parasitárias da gorda máquina Estatal.
Judiciário e militares dão o tom das negociações para um novo equilibrio das forças desarmônicas que sobrevivem das tetas do erário.
O fato é que  as relações de poder e privilégios que ditam a teatral performance das instituições duvidosamente democraticas estão em mudança. É preciso atualizar o arcaismo patrimonialista nacional.
Afinal, no nosso eterno "antigo regime", o mantra de que "as instituições estão funcionando" apenas dissimula a luta oligarquica por trincheiras na maquina estatal. É preciso garantir o rentismo mais descarado as facções oligarquicas com melhor desempenho. 
No fundo, a politica nacional se resume ao jogo dos interesses privados dos que mamam no Estado, não importa o governo da vez. 
Militares e magıstrado querem agora mais espaço disputando a vaga de poder moderador de uma republicanismo sem lei e ordem, tradicionalmente gerido pelo velho toma lá da cá entre o executivo e o legislativo.
 Militares e magıstrados, faz algum tempo, querem rever este pacto oligárquico, cheio de vícius e descaramentos, alvo de tantos escândalos e desgastes. Sabem que não há mais lugar para o presidencialismo de coalisão. É hora de novos arranjos.
 Seja qual for o resultado disso, uma premissa define o resultado: no jogo do poder o povo não tem vez. Todo poder se rouba do povo e é exercido com a mais competente desfaçatez. A nova República  sempre foi uma  República Velha construida sob o fantasma do risco de uma " Revolução de 30".
Longa vida ao corrpirativismo!

segunda-feira, 23 de maio de 2022

MANIFESTAÇÃO

Não me importa quem ganhou no futebol,
brilhou no carnaval,
ou foi eleito para dar rosto
a mais um maldito governo nacional.

Nada que realmente  importa à vida 
vira materia de jornal.
Estou farto de tanta notícia
que não sustenta um fato
que me seja do agrado. 

Pois só  me interessa saber se,
antes do fim do ano,
vamos todos nos encontrar na rua,
depois do trabalho,
contra os absurdos da ordem pública,
para adiar o fim do mundo.

Preciso rever velhos amigos,
passar o cotidiano a limpo,
exigir futuros onde triunfa o arcaico,
pedir reembouço pelo tempo
roubado pelo trabalho,
pelo Estado e redes sociais.

Quero participar do enterro da sociedade pós industrial,
engordar  florestas e imagrecer cidades.

Só me interessa saber se depois de amanhã
inventaremos juntos qualquer primavera
onde os ricos e poderosos
serão a única espécie em extinção. 







sexta-feira, 13 de maio de 2022

PRECISAMOS FALAR SOBRE A NORMALIZAÇÃO DO ABSURDO

Somente uma república  bananeira como a brasileira permite que um Napoleão de Hospício,  feito Bolsonaro, chegue impunimente ao final de seu mandato,  com tantos indícios de corrupção,  tanta quebra de decoro,e franca vocação  golpista e anti democrática.
Que prova da falência das ditas instituições democraticas poderia ser mais contuntente do que essa ? Que tipo de sociedade é essa onde um asqueroso como Bolsonaro foi  normalizado pela impotência coletiva ?

ANTI CAPITALISMO

Onde tudo custa caro
a vida não vale nada
e as coisas governam
os homens.

Hoje tudo tem preço
no inferno da sobrevivência
onde são precários todos os direitos,
Onde os fragelos do mundo moderno
asseguram a elites o progresso
relegando multidões a miséria.

Pois que se insurjam os desesperados,
os sem futuro,
os desalmados,
contra os lucros da modernidade
e o absurdo dos seus salários.

Que a revolta custe caro aos engravatados globalizados,
e conduza a ordem mundial ao colápso. 

Façam arde as chamas 
anunciadoras de outros mundos
que nos inspiram o impossível,
o arcaico,
nas futuristas ruas de nossas cidades mortas.



quarta-feira, 11 de maio de 2022

ELEIÇÕES GERAIS

Não importa quem ganhará as eleições gerais.
Todos nós perdemos na continuidade do jogo,
do absurdo do Estado,
da lógica do mercado e da produção,
na precariedade de nosso cotidiano.

Seguiremos em servidão voluntaria
apontando os erros do novo governo,
em permanente crise de representação,
abominando os rumos da república. 

Os politicos continuarão ricos,
os negros sendo assassinados,
e os jovens angustiados
e sem o legado de qualquer futuro.

Nada de novo há de surgir das urnas
e do falsos falsos consensos nacionais.

São tempos de emergência climatica
e caos global
onde todo governo e elite
exigem de nós 
um passivo compromisso
com toda forma consagrada de absurdo.

Mas, sim, haverá novo governo,
apesar de toda abstenção. 
Tudo sempre muda
para continuar como está. 
Tudo já foi decidido
nos gabinetes de minorias
que nos governam além do voto.



segunda-feira, 9 de maio de 2022

GOLPISMO E REPÚBLICA

A banalidade do golpe é inerente a tradição  autoritária  da república tupiniquim desde sua fundação.É seu traço mais asqueroso e elitista. O golpismo  define a era vargas, a aberrância populista de Jânio Quadros, e a tragédia de 64.
No crepúsculo da Nova República, os novos conspiradores, delirantes e aloprados, assumem sem o menor pudor a inspiração fascista do golpismo que hoje atualiza a distopia nacional. Não fazem segredo de sua absurda defesa do barbarismo político tropical.