quinta-feira, 30 de junho de 2022

CHAMADO AOS REVOLTADOS

É certo que nascemos em tempos insanos,
de poderes monstruosos,
que pesam sobre o corpo,
a palavra e os atos,
mais do que qualquer mistério
ou ditadorial imperativo divino.

A vida, reduzida a disciplina, 
é mera busca por sobrevivência
frente a brutalidade que sustenta os privilégios de alguns minguados bem nascidos.

A ordem, é certo,
ainda é branca,
restrita,
e descança sobre as costas dos  cativos,
como sempre privados de alma,
marginalizados pela lei 
e administrados como gado,
enquanto convencidos pelo Estado
da falácia de que são livres.

O mundo atual é feito para poucos.
Para os canalhas e 
 abastardos 
que arrotam moralismos
cultivando autoritarismos
e arbítrios.
Eles são referendados pelos eruditos
que ainda ruminam as falsas virtudes do progresso e da civilização. 


Nascemos em tempos onde a revolta é um dever,
um modo de afirmar a existência 
contra a servidão que nos foi imposta
como forma de vida.

Faço aqui um chamado
aos novos espartaquistas
que, na contramão dos rebanhos, preparam rm segredo,
com muita paciência e afinco,
a grande festa da insurreição e da revolta,
que há de jogar por terra
todas as verdades que sustentam estes tempos horrendos que nos oprimem.

Somos o relâmpago,
a tempestade que vem,
o que não tem medida,
e não se define,
o que transborda.
Somos o inedperado.
















sábado, 25 de junho de 2022

DISTOPIA REPUBLICANA

Enquanto os rebanhos brincam de eleições, resta lembrar uma realidade cada vez mais monstruosa em suas consequências:
Dos três podres poderes de nossa oligarquica república autoritária, o legislativo é aquele que reúne os mais ousados dentre os canalhas.



quarta-feira, 22 de junho de 2022

O SILÊNCIO DOS CONFORMADOS

Desprezo a normalidade dos fatos e hábitos,
a servidão voluntária 
dos que tem fome de segurança,
que se apequenam diante da autoridade,
intorpecidos por qualquer ilusão de esperança,
e vivem serenos sem um único traço de dignidade.

Nada é mas repulsivo
do que a moral dos escravos,
do que a fé dos conformados,
que amam o peso de suas correntes,
e se entregam a ditadura
de um deus delinquente.





terça-feira, 21 de junho de 2022

REVOLTA E INTIMISMO

Ser revoltado  é insistir 
contra a ordem,  hábitos, e melancolias, 
saber o indecente vigor de morte
nos subterrânios de nossas rotinas.

É produzir perigos,
assumir riscos,
na embriaguez da insurgência
contra a autoridade de todos os ídolos.

É afirmar o ilegível,
a potência do incompreensível,
fazer do não um rugido. 

É explodir o tempo em mil urgências e des-sentidos,
aprender o fogo e o frio,
até provar o efêmero do eterno.

É estar onde o futuro envelhece
e tudo desaparece
no eterno retorno de falsos princípios e hipocrisias.

Ser revoltado é ser insubmisso a rotina,
fazer ploriferar desordens,
deboches, risos e gritos,
a beira de abismos.

É afirmar-se  intempestivo,
selvagem, precário, 
em um corpo em desastre
dançando no escuro.

Ser indiferente a sorte e ao destino,
desfazer a si mesmo,
saber-se um outro,
 a margem do instante,
da verdade e de seus rebanhos.

É tornar-se trágico
onde te imaginam livre.

É superar a si mesmo,
sucumbir a potência do impossível,
criar como quem se entrega
a correnteza de um rio invisível. 


sábado, 18 de junho de 2022

Guilherme Castelo Branco ( org.) Terrorismo de Estado, 2 ed. BH: autêntica, 2013

" Este livro apresenta uma coletânea de artigos que discute o terrorismo de Estado, seus aspectos conceituais e suas características presentes na vida política contemporânea. A partir de análises siciológicas e filosóficas, os autores discutem questões fundamentais desse tipo de uso excessivo do poder pelo Estado: Como tantos fenômenos de violência e desmandos podem ter acontecido? Qual a razão que preside a tais arbritariedades e crimes? Seria uma violência inerente à racionalidade política ocidental? Seria apenas uma exceção? Ou tal campo de violência acobertada pelo Estado e por seus sistemas Judiciários seria uma consequência inevitável dos alicerceres histórico-sociais de nossos sistemas políticos? Como explicacar, por outri lado, a burocracia e sua presença na vida política e social? Como, numa época de avanços tecnológicos, científicos e artísticos, tantas intuições praticam técnicas de exclusão e sugerem práticas intimidatórias?"

terça-feira, 14 de junho de 2022

DIANTE DO INTOLERÁVEL

Diante do intolerável,  não basta a indignação de uma consciência lúcida e conformada. É preciso contrapor ao inadimissível a vida transmutada em grito primal e definitivo. Fazer surgir o inumano, o inesperado como potência, nos corpos transbordantes da ação direta.
É preciso antecipar futuros, transfigurar o tempo, derrubar o muro do tempo presente com a desmedida força das aríetes das imaginações selvagens.

A TOLERÂNCIA E O INTEMPESTIVO. Edson Passetti & Salete Oliveira ( orgs.)

"Nosso tempo é pleno de prescrições, fronteiras,limites. Época em que a tolerância é incensada como a senha para a ' justa sociabilidade'. Mais do que  mera recomendação para o bom convívio entre homens e povos, aceitar-se tolerante é um imperativo, condição para ser reconhecido como vivo. Aquilo que escapa, que transborda ao campo demarcado dos direitos e dos alvéolos de liberdades mesquinhas, que nos é reservado, é visto como radical e perigoso. Quem se insurge e grita é insociável. Indesejável, intolerante. É identificado, localizado e encontra-se sobre a mira do Estado que aparta em nome da boa sociedade. Os monstros de agora são os intolerantes, e a sociedade tolerante não os pode tolerar.
A Tolerância e o Intempestivo é um livro de conversações entre pessoas com perspectivas diferentes, mas que não se satisfazem conformadas ao pluralismo democrático. Nele existem intelectuais que não visam o consenso, mas a batalha dos guerreiros, aguçando rebeldias. Tormentas sem direção ou prescrição atingem e problematizam as práticas de tolerância que atravessam as relações entre os Estados, as conquistas políticas, a definição de direitos, os modelos de educação, os discursos revolucionários, os campos de extermínio,  os genocídios e as obediências. O pulsar quase mudo das resistências emerge fazendo vibrar: as formas dos conformados não suportam o intempestivo das tempestades."

segunda-feira, 13 de junho de 2022

BREVE HISTÓRIA DO PLANO REAL

Criado durante o governo de transição de Itamar Franco, o Plano Real representou o fim da hiper infração e o início de uma relativa estabilidade política. Cinsolidou-se nos governos FHC, quando a pauta neo liberal de uma reforma conservadora do Estado abriu caminho para os governos lula e sua politica populista nacional desenvolvimentista. Diga-se de passagem,  tão neo liberal quanto a do seu antecessor. A falácia de um "brasil moderno" que ingressava no "primeiro mundo" não resistiu aos governos Dilma. A economia global não estava muito bem e a do Brasil seguia de mal a pior. Símbolo do neo populismo de esquerda, a Petrobras virou protagonista do desenvolvimento da corrupção no país da impunidade. Foi, então, a vez do Governo Temer lançar a ponte para o abismo  bolsonarista.   Fez-se de vez o caos, com direito a pandemia global e guerra na Ucrânia. A hiper inflação  bateu a porta da nação. Quanto ao plano real, virou história, memória. Mesmo que a moeda sobreviva, desvalorizada e com prestigio de dinheiro de brinquedo.
Ao longo deste período muitos novos milionarios e bilionarios surgiram no país enquanto a desigualdade e a miséria,  mesmo maquiada pelos anos de governos de centro esquerda, nunca parou de crescer no país do agro negócio em um mundo tecnológico.

DEMOCRACIA PARA POUCOS

Na democracia tupiniquim
mata-se ativistas,
negros, mulheres e travestis,
como em qualquer ditadura.

A lei existe para manter a ordem,
o controle da população. 
A justiça não garante a abstração de qualquer direito.

A democracia é apenas uma forma de controle,
um modo do Estado se impor
contra a sociedade e a cidade.

 Não somos gregos
e a república espera sempre
o rosto de um Cezar
para garantir o equilíbrio oligárquico
e a desigualdade como princípio. 




domingo, 12 de junho de 2022

APENAS UM DIA

Hoje será mais um dia precário,
esquelético e famérico,
na cidade dos mortos vivos.

Apenas um dia tóxico,
efêmero e sem sentido,
onde o sol nasce fora do céu;
um dia com cheiro de morte.