sábado, 24 de junho de 2023

CONFISSÕES DE UM INSURGENTE

Nasci a margem da ordem,
enterrado no lixo dos bem nascidos 
e predestinado a uma má consciência.

Não me queiram, portanto,
 previsível ou dócil.
Não tenho por vocação
 a provação de ser um mísero e pacífico escravo,
 seja dos deuses, da nação ou do medo. 

São tantos, afinal, os paradoxos e contradições do mundo atual 
que já no parto fui obrigado a coragem da resistência e ungido amante da rebelião e do futuro.


Desobedecer, em sociedades brutalmente desiguais e injustas,
 é, afinal,
questão de bom senso
 e imediata sobrevivência.

Dentro de mim existem muitos
sem solução
gritando por qualquer novíssima revolução.
Por isso nos matam um pouco todos os dias.
Mas, o que eles ainda não sabem
é que nos cansamos de morrer.








quarta-feira, 21 de junho de 2023

RACISMO E IDENTIDADE NACIONAL

Diante de tantos casos de racismo tendo repercussão midiática este ano é imperativo afirmar que o racismo não virou moda e nem é novidade no Brasil 
Ele é, na verdade, um traço fundamental da cultura nacional. Um pilar estrutural de nosso projeto elitista e racista de Estado Nação de inspiração vergonhosamente eurocentrica e genocida.
No Brasil índios e negros são vistos e tratados como inconvenientes históricos que devem ser excluídos e exterminados cotidianamente em uma sociedade de desiguais onde poucos são cidadões.
O Brasil é sempre foi um país nojento e vai continuar racista enquanto a desigualdade nos definir como sociedade.


sexta-feira, 16 de junho de 2023

REVOLTA URBANA

Perdemos pouco,
mas perdemos tudo,
nessa selva de cidade.

Aqui se vive desvivendo a vida,
de joelhos quebrados e vontade domada.

Ninguém é ninguém
na indiferença de todo mundo
e cada um morre sozinho
depois de muita exploração.
Uns poucos tem muito
enquanto à maioria falta ração.

Mas onde não temos nada
lutaremos por tudo.
Nosso futuro é  rebelião .

2013: DEZ ANOS DEPOIS PELA INSURREIÇÃO QUE VIRÁ

Na segunda-feira de 17 de junho de 2013,  mais de 250 mil pessoas foram às ruas em   todo o país. Em Brasília, a marquise do Congresso Nacional foi tomada por manifestantes.
A fotografia a seguir  registra simbolicamente em Brasília a potência alcançada pelo movimento de ação direta que nasceu em atos contra o reajuste de tarifas de transporte e revelou uma longa lista de insatisfações de vários segmentos sociais que inventavam a intensidade viva dos corpos na criação de um  povo que ainda será.


O PODER APODRECE

O PODER apodrece a todos.
Adoece tanto os que o sofrem
quanto aqueles que o exercem.

O PODER é perverso,
como toda hierarquia, 
fé e autoridade.

O PODER nos conforma,
nos transforma,
 criando a falsa segurança
do exercicio de uma vontade
e revelação da VERDADE.

O PODER é podre,
prepotente, patético
e obsceno
como todo ideal,
moral e ilusão de humanidade.





quinta-feira, 8 de junho de 2023

SOBRE A DECADÊNCIA DA NOVA REPÚBLICA (VELHA)

O que melhor define o processo de deterioração da chamada nova república (velha) é o fortalecimento e reinvenção dos conservadorismos de modo acentuado depois da polarização ideológica inaugurada pelas eleições de 2014.
A transição democrática ou o mito de uma radicalização progressiva da democracia no sentido de um controle cada vez maior da sociedade civil sobre o Estado, foi destruído pelo modelo de vida neo liberal baseado em  uma mercantilização cada vez mais despudorada da política e de todas as relações humanas.
A autocracia de um mercado despódico que serve aquele 1% privilegiado da população passou a definir a sociedade política reduzindo-a a um grande balcão de negócios onde predominam apetites privados, sejam individuais ou coletivos.

DEMOCRACIA: MITO OU REALIDADE?

No Brasil a democracia é duvidosa. Por isso sua defesa cheira a cinismo ou demagogia. Temos aqui uma república oligárquica de forte tradição autoritária, uma sociedade incapaz de reinventar-se  contra o Estado.
Não há democracia nas periferias, as elites são racistas, e a desigualdade é brutal e normativa.
Nossas instituições são  o resultado de uma racionalidade colonial baseada na dominação, no não direito de muitos e na garantia dos privilégios de poucos. A maioria da população é vista e tratada como "força produtiva" e potencial ameaça ao sistema. Os que escapam a fórmula escola, trabalho e religião, são espancados, presos ou mortos como "perigosos" a ordem e ao progresso da nação.
Não há nada de democrático neste arranjo sócio político e produtivo que conhecemos como Brasil.


quarta-feira, 7 de junho de 2023

A VIDA SEGUE DIFÍCIL E É QUASE IMPOSSÍVEL NÃO SE REVOLTAR

A vida segue difícil.
Mas há lutas e resistências
que  por aí florescem dispersas
nos jardins comuns da existência 
a espera de um dia de sol

E qualquer dia desses
 pode ser um dia de sol.
Amanhã, ou depois de amanhã.
Quem sabe?
Qualquer revolta pode acordar o  céu 
e uma multidão reinventar o chão
no coração da cidade.

Afinal, a insurgência é urgente.
A vida segue difícil
e é quase impossível não se revoltar.
 


NÃO EXISTE GOVERNO POPULAR

Cem dias de governo foram o suficientes para desconstruir qualquer aposta mais ingênua ou otimista nas possibilidades do atual mandato de Lula.
Governo é governo e só serve para manter a ordem, para servir aos privilegiados de uma sociedade brutalmente desigual e hierárquica.
Nenhum governo melhora nossas vidas. O que muda as coisas é a organização da sociedade, contra culturas e condutas, que a margem do Estado e da política institucional, reinventam nossos modos de viver, querer e produzir o mundo através do comum.
Nenhum governo é popular.

terça-feira, 6 de junho de 2023

CORRUPÇÃO PARLAMENTAR

Em nossa elitista república tropical, os parlamentos, seja municipal, estadual ou nacional, converteram-se de vez em covis de despotas, narcisistas e corruptos.
Vereadores e deputados são movidos pelo apetite privado em uma esfera pública mercantilizada onde o que conta é o enriquecimento pessoal. Nenhum traço de preocupação com o bem comum inspira os ditos representantes do povo,  mais interessados em manter privilégios e garantir bons negócios as custas dos recursos públicos.
Pode-se mesmo dizer que, independente da hipocrisia dos discursos e bandeiras ideologicas, que todo parlamentar é um canalha, um velhaco, que nos custa caro manter em um parlamento que funciona antes de tudo como um grande balcão de negócios e falcatruas.
O poder legislativo legisla em causa própria e atende sempre o 1% dos muito ricos que lhes bancam as milionárias campanhas eleitorais .

sábado, 3 de junho de 2023

AS PERIPÉCIAS DO LEGISLATIVO

O parlamento dá o tom da república. Dentro da liturgia liberaloide isso deveria ser uma condição positiva, um dispositivo contrário a ascenção de qualquer tirano e uma premissa de equilíbrio dos três podres poderes nacionais.
Mas é do conservador, fisiológico, elitista e autoritário parlamento brasileiro do qual estamos falando. Tal primado do legislativo as custas da  fragilidade do executivo é por aqui expressão da desfincionalidade do atual sistema político que serve exclusivamente aos interesses oligárquicos.
É urgente que a voz das ruas ecoe nos corredores dos palácios e parlamentos. Os governos devem sempre temer o povo e saber seus limites.



sexta-feira, 2 de junho de 2023

O TERCEIRO GOVERNO MOLUSCO E A CRISE DA NOVA REPÚBLICA VELHA

Desmoralizada durante os anos de desgoverno Bozo, a instituição “Presidência da República”, sob o terceiro governo Molusco, retornou a mediocridade que lhe é própria na vida republicana nacional. Afinal, a chamada Nova República [Velha], através de presidentes fracos e exóticos, como Collor, Itamar, Dilma e Temer, que em suas personas mais pareciam tristes caricaturas de si mesmos (no fundo Bolsonaro só levou esta tendência as últimas consequências) garantiram a mediocridade como um quase pré requisito para ocupante do troninho presidencial. 

 Enquanto isso, as quadrilhas partidárias se organizavam e aperfeiçoavam seus esquemas obscuros de negociatas e corrupções no Parlamento Nacional. Parlamento que graças aos dispositivos pró parlamentarismo da Carta Constitucional de 88, consagraram, desde  Sarney, o toma lá da cá como fundamento do desiquilíbrio entre os poderes. Apesar do sempre possível abuso das medidas provisórias, o poder executivo curvou-se no período pós Collor ao jogo de um legislativo cada vez fisiológico e conservador. De lá pra cá, tudo só piorou.

A falência do Presidencialismo de coalizão, decretado oficialmente com o colapso do segundo governo Dilma de Aguentar, abriu um período de incertezas que ainda não terminou. O enorme poder do parlamento e das facções oligárquicas que dominam a politica institucional, alimentado por Temer, aprofundou a crise de representação que define o atual regime político. Cada vez mais gulosos de recursos públicos e privilégios, os políticos e seus partidos reduzem a vida pública a relações mercantis, a um grande negócio nacional, as custas da exploração do povo.

 O atual terceiro governo mula, coroa esse processo de empoderamento do parlamento ao constituir-se desde o inicio como o mais fraco de todos os governos fracos da nova república velha. Acuado pela polarização ideológica e sensível ao jogo podre do poder ele segue totalmente indiferente a princípios. Neste ponto, não é muito diferente do desgoverno que lhe antecedeu. Em ambos prevalece a crença de uma autonomia ilimitada da política frente as demais esferas da vida comum, uma dogmática certeza de que todos os conflitos se resolvem pela política . Estando ela, na prática, acima do bem e do mal.

 Vivemos, definitivamente, tempos difíceis neste país e as coisas não param de piorar.