Nasci a margem da ordem,
enterrado no lixo dos bem nascidos
e predestinado a uma má consciência.
Não me queiram, portanto,
previsível ou dócil.
Não tenho por vocação
a provação de ser um mísero e pacífico escravo,
seja dos deuses, da nação ou do medo.
São tantos, afinal, os paradoxos e contradições do mundo atual
que já no parto fui obrigado a coragem da resistência e ungido amante da rebelião e do futuro.
Desobedecer, em sociedades brutalmente desiguais e injustas,
é, afinal,
questão de bom senso
e imediata sobrevivência.
Dentro de mim existem muitos
sem solução
gritando por qualquer novíssima revolução.
Por isso nos matam um pouco todos os dias.
Mas, o que eles ainda não sabem
é que nos cansamos de morrer.