É aparentemente consensual na sociedade tupiniquim a perversidade e o caráter
hediondo do crime de estupro. Mas tal condenação tão evidente ao senso comum,
passa a ser duvidosa quando pensamos o
modo como esta mesma sociedade representa a mulher, reduzindo-a a fonte de erotismo, prazer e passividade. O
que ajuda a entender por que esta modalidade de crime vem se impondo como uma pratica cotidiana e negligenciada
pelas autoridades, como outras formas de violência contra a mulher.
De fato existe uma cultura do estupro, onde o crime é recorrentemente relativizado
e, não raramente, a vitima é estigmatizada como “culpada” pela violência sofrida
caso não atenda aos padrões conservadores vigentes da persona feminina
coletivamente consagrado.
Muito por isso, esta modalidade extrema de violência contra a mulher,
que sabemos o quão frequente é entre nós,
até hoje nunca conquistou o merecido status de primordial questão de
segurança pública, cuja formulação de politicas, diga-se de passagem, é monopolizada por agentes masculinos, muitas
vezes avessos ao seu reconhecimento como tal.
É preciso que seja dito com todas as letras que a cultura patriarcal, ainda hegemônica em nossa
sociedade, relega a mulher a uma cidadania de segunda classe e ignora as mais
urgentes discussões sobre gênero e preconceito.
A pauta feminista que reivindica uma afirmação da mulher na sociedade,
promovendo igualdade e respeito, acaba
relegada a uma injusta marginalidade por
força dos preconceitos e a descarada objetificação da mulher e do feminino.
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