terça-feira, 17 de setembro de 2024

A MORTE DO MENINO FRAGELADO

A noite devorou o sonho
do menino fragelado.
que dormia ao relento
ali perto do lixo.

Ele nunca mais sonhará
com a mãe morta,
não passará mais fome,
nem se revoltará 
contra a truculência da polícia,
do segurança do bar
ou com o desprezo asqueroso daquela gente branca e esnobe
do prédio chique do fim da rua.

Nunca mais ouviria a voz
da velha beata
que lhe falava do inferno
e lhe  odiava por não ter nada.

Hoje,
o menino não acordou.
Morreu de frio.
Mas já estava doente.
Todos sabiam.
Ninguém se importava.


A noite o levou embora
de um mundo
que não o queria,
que lhe desprezava,
e não reconhecia nele
uma vida.

O menino morreu,
mas não de frio 
como disseram 
os bombeiros
que recolheram o corpo
como se fosse lixo.
Foi, ao contrário,
um caso de homicídio,
cometido por todos
e por ninguém.





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