50 anos depois, o golpe civil militar de 1964 parece ser ainda uma
pagina aberta no imaginário tupiniquim. Seja como trauma ou, como nos
surpreende agora, como bizarra alternativa conservadora a impopularidade de
qualquer governo.
Se a memoria do
golpe até pouco tempo oscilava entre o silêncio e o trauma, hoje, quando os
arquivos da ditadura começam a ser abertos, e assistimos iniciativas saudáveis
como “a comissão da verdade”, inventa-se em praça pública um pensamento
conservador que banaliza o golpismo.
Vejo nesta sinistra
novidade um sintoma da vitalidade do autoritarismo como um traço definidor da sociedade politica tupiniquim. Afinal, seja
entre os partidários da direita ou da esquerda, a democracia é mais um discurso
do que uma cultura.
Vimemos em uma
sociedade onde o agir politico
ainda é engessado pelas formas mais tradicionais
de democracia indireta e o espaço público é dominado por elites ou oligarquias
de poder que fazem do Estado um privilégio.
Assim, pode-se
dizer que a ditadura de 1964 ainda nos assombra no sem rumo de nossa eterna
transição democrática, no perpetuo caminhar para nenhum lugar, nesta democracia
que ainda não foi capaz de inventar um novo tipo de Estado, inspirado em autenticas
praticas democráticas, na participação e na transparência como principio do
exercício do poder político.
Por enquanto, o
fato é que vivemos ainda em uma república profundamente conservadora.