Uma inspirada passagem de um antigo artigo de Jean Baudrillard, escrito em 1996 para o jornal parisiense Libération, me faz ainda pensar sobre a descarada desfuncionalidade da política contemporânea. Através dele aprendo a rir da grande piada que é o ideal republicano e as decantadas virtudes da "cidadania":
" No fundo ninguém cre na democracia. Todo mundo sabe obscuramente que qualquer sistema funciona na negação de seus próprios princípios, transgredindo as próprias regras. E essa resignação quanto aos princípios alimenta um consenso vergonhoso sobre a regra do jogo escondida, imoral, desta sociedade. A corrupção, na democracia, equivale à reconversão do privilégio ( da lei 'privada'), regra das sociedades anteriores, a vertigem da depilação suntuária- simplesmente tornada ilegal, o que aumenta ainda mais o seu charme.
Assim, a própria corrupção é uma função vital. A corrupção como mecanismo secreto da sociedade inteira, como força política, como serviço público."
Jean Baudrillard in O Espelho da Corrupção - Tela Total: Mito ironias do virtual e da Imagem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário