A gramática da modernidade valorizou demasiadamente os enunciados políticos e narrativas de poder. Apostou deliberadamente na ilusão de uma emancipação política legitimada pela Filosofia da História e do progresso inspirados pela dialética hegeliana, que não reconheceu seu componente negativo e as formas corrompidas do social. Não foi capaz de admitir a politica como uma ficção mantida por múltiplos interesses e cumplicidades que transcendem os jogos simbólicos do espaço publico e sua suposta racionalidade.
Como questionou Jean Baudrillard em O PARADOXISTA INDIFERENTE,
"...Será que o político não obedece a impulsos , a obrigações,a desafios a fantasmas que têm pouco a ver com a coisa pública? Esta verdade incorruptível do mal, do irracional, transparece na própria corrupção do político que deve, portanto, ser interpretada positivamente como a impossibilidade da Razão Política de se realizar. É o que explica que, quanto mais a transparência se impõe, mais a corrupção cresce. Ao só querer levar em conta uma natureza humana politicamente correta- visão fundamentalmente rousseauniana-, os militantes da boa causa democrática, aqueles que mais sutilmente querem reabilitar a 'essência' do político, não fazem mais do que alimentar esta forma corrupt."
( Jean Baudrillard.O Paradoxista Indiferente/ Entrevistas com Philippe Petit. RJ:Pazulin, 1999, p. 81)
O racionalização ingênua do jogo político nos faz apostar em falsas soluções para dilemas sem solução através de uma representação apodrecida do social. Acabamos, assim, prisioneiros da chantagem governamental, do paradoxo do poder como antídoto ao próprio poder. Assim, vislumbramos a imagem ideal do sistema como solução para sua realidade concreta, nos tornamos, ao mesmo tempo, vítimas, assassinos e cúmplices do grande crime perfeito da Razão Política.
Talvez o futuro dependa de indivíduos anômalos, dissocializados e indiferentes as instituições sociais. De alguns descrentes do sonho moderno que possam se espalhar como um vírus através do sistema, pondo em risco e desacreditando qualquer representação ideal ou desarranjo utópico ideológico. O que hoje está em jogo são nossas incertezas coletivas em uma época definida pela indistinção de todos os valores, pela impotência e confusão de um mundo onde todas as representações e significações se desfazem no ar.
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