A decadência da
esquerda institucional na América Latina não se deve propriamente a eventuais
virtudes de uma nova direita emergente, mas as contradições e fragilidades das forças politicas que lhe representam nesta
parte do continente.
Em que pesem suas
diferentes trajetórias e identidades, todos os partidos e lideranças de
esquerda, demonstraram ao longo das últimas décadas em que gozaram de alguma hegemonia
em diferentes cenários nacionais, um apreço desmedido pelo poder de Estado, uma
vocação autoritária e abertura para o mais rasteiro calculo fisiológico. O alinhamento
com Cuba e Venezuela, entulhos do velho capitalismo de estado soviético, também
contribuiu para expor os arcaísmos ideológicos de governos como o brasileiro.
Países como
Argentina, Brasil, Chile e Uruguai tentaram afirmar nos últimos anos uma nova
inserção da chamada América Latina no novo cenário mundial. Contavam para tanto
com a manutenção e consolidação de um projeto de poder de longo prazo,
personificado por partidos políticos de tradição de esquerda comprometidos com
alianças conservadoras e acomodações politicas e corporativas. Em outras
palavras, as forças e legendas de esquerda, que no plano multinacional buscavam
consolidar um projeto politico comum, dito progressista, no plano nacional
sujeitavam-se a uma logica conservadora onde iniciativas populistas eram
dosadas com o mais nefasto fisiologismo. Evidentemente as peculiaridades de
cada situação nacional devem ser consideradas em tal generalização deliberadamente
imprecisa. Mas o fato é que o resultado é o mesmo em todo os casos: a perda de
hegemonia e uma guinada a direita ironicamente alimentada pela vitória de Trump
nos Estados Unidos. Fato politico que deu ao continente uma nova silhueta na
geografia global.
A esquerda
institucional latino americana, longe de filiar-se a intenção de qualquer
projeto emancipatório caiu no medíocre calculo da simples manutenção do poder de
Estado, descredenciou-se como alternativa politica transformadora, acabando estigmatizada pela opinião pública como uma
variação do status quo. Não é, portanto, de forma alguma lamentável ou
surpreendente sua derrocada politica na região.
Assim como na Europa,
o desgaste da politica tradicional vem alimentando inquietudes e ensaios de uma
nova forma de pensar e fazer politica a margem das instituições de poder,
baseada em mobilizações e ações moleculares, formas horizontais e diretas de
participação. No Brasil, 2013 e a greve
dos caminhoneiros são exemplos desta nova tendência. O populismo da esquerda já
não contempla este novo movimento social e suas demandas por mudanças efetivas
que extrapolam a pauta reformista e suas concessões a agenda neo liberal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário