O processo de redemocratização, que definiu o cenário
politico dos anos oitenta do ultimo século no Brasil, desdobrou-se na décadas
seguintes e durante o inicio do novo século, em uma hegemonia inconteste do
campo progressista ou de centro esquerda.
Com a chegada do PT ao poder este espetro ideológico foi drasticamente
alterado, passando o PT a monopolizar, pelo menos em seu discurso oficial este
campo de esquerda e definindo as forças progressistas de então pela adesão ou
recusa de sua agenda nacional populista.
O desgaste e
a falência de seu projeto partidário de
poder, durante o primeiro e o segundo
governo Dilma, acabou por estabelecer um realinhamento ideológico onde,
então, passou a predominar uma polarização entre esquerda e direita que na
verdade não passa de uma divisão vazia entre petismo e anti petismo.
Em 2013, quando
explodiu por todo país uma serie de protestos , desencadeados pelo movimento
passe livre em São Pauo e Rio de Janeiro, mas que ganharam dimensões
imprevistas e adesão popular inédita, a narrativa governamental de um país que ascendia ao
“primeiro mundo” e superava suas mazelas sociais e econômicas, caiu por terra,
produzindo gradativamente o mencionado realinhamento ideológico. O mesmo foi
alimentado pela crise de legitimidade das oligarquias de poder, que transcendeu o aspecto ideológico partidário,
mediante uma serie de escândalos de corrupção que alcançaram uma dimensão
politica singular através das investigações da Operação Lava Jato, iniciadas em
2014, tendo por alvo a Petrobras, até então carro chefe da propaganda nacional
desenvolvimentista da era PT.
As eleições
presidenciais de 2014, marcadas pelo esvaziamento do debate nacional e pela demagogia eleitoreira, consolidou a
bipolaridade pseudo ideológica entre petismo e anti petismo, reduzindo a
opinião publica ao mais grosseiro maniqueísmo esquizofrênico. Entre
as cruzadas de direita e esquerda da luta contra o mal, a corrupção se
afirmou como a grande pauta nacional e, não seria exagero, falar de uma
verdadeira criminalização da politica dado os tantos esquemas de propina e
negociatas que se tornaram públicas, revelando a realidade mais obscura do jogo
do poder.
Desde então, o
projeto democrático entrou em crise, embora se mantenha formalmente a ordem
institucional. A hipótese de uma solução autoritária, reeditando a velha
formula da salvação nacional em épocas de obscuridade, não parece ter forças
para se impor como falsa solução quando é o próprio poder e a república que agonizam. Por outro lado,
já não há um campo progressista capaz de propor um projeto radical de reforma
politica e aprofundamento institucional da democracia.
Para piorar as
coisas, em tal cenário, há uma tendência a reduzir todo o jogo do poder a busca por uma liderança carismática,
populista de esquerda ou direita, capaz de reinventar todas as ilusões antigas
sobre a vida politica nas eleições de 2018.
De um modo ou de outro a expectativa é que tudo continue como já é,
apesar de todas as indignações.
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