Publicado um pouco antes da
Primeira Grande Guerra, A
Sociologia dos Partidos Políticos de Robert Michels permanece ainda hoje, em muitos aspectos, uma referência
profundamente atual para reflexão sobre o
jogo do poder nas democracias contemporâneas. É particularmente surpreendente como a
critica formulada nesta obra aos partidos socialistas e revolucionários do
inicio do século XX, ainda afeta os que na contemporaneidade afirmam meta narrativas
fundadas no ideário de ruptura e transformação estrutural da sociedade a partir
de certa traição de “esquerda”.
Considerando que Michels escreve
em um momento anterior ao advento do socialismo real e do fenômeno peculiar do
stalinismo, mesmo assim, sua reflexão
fornece preciosos subsídios a análise da cultura politica de esquerda em seus
tantos desdobramentos e variações ao
longo do século XX.
Em linhas gerais, a critica de
Michels ao regime representativo, fundamentada na tese de que , em uma sociedade
de massas, o jogo do poder tem como principio a hegemonia dos representantes
sobre o representados goza de assombrosa atualidade. A própria delegação de
poder legitima lideranças oligárquicas que, destacando-se das massas, passam a
exercer esta representação em função de seus próprios interesses.
Nas palavras de Michels,
“Toda organização de partido representa uma potência oligárquica
repousada sobre uma base democrática. Encontramos em toda parte eleitores e
eleitos. Mas também encontramos em toda parte um poder quase ilimitado dos eleitos sobre as massas que os elegem. A estrutura oligárquica
do edifício abafa o principio democrático fundamental.”
( Robert Michels. A sociologia
dos Partidos Políticos. Brasilia: Editora da UNB. Trad. Arthur Claudhon; ( coleção Pensamento
Político Vol. 58), p. 238)
Se tal premissa estrutural e
paradoxal ainda condiciona a cultura democrática ela adquiri, no caso brasileiro,
uma dimensão impar para compreensão das patologias que assombram o modelo
republicano ( corrupção endêmica e crise de representatividade) e da
determinante influência da tradição autoritária e elitista da politica
brasileira sob a consolidação de uma
institucionalidade e cultura democrática.
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