segunda-feira, 13 de junho de 2016

ROBERT MICHELS E OS LIMITES DA DEMOCRACIA REPRESENTATIVA

Publicado um pouco antes da Primeira Grande Guerra, A
Sociologia dos Partidos Políticos  de Robert Michels permanece ainda hoje,  em muitos aspectos, uma referência profundamente atual para reflexão sobre o  jogo do poder nas democracias contemporâneas.  É particularmente surpreendente como a critica formulada nesta obra aos partidos socialistas e revolucionários do inicio do século XX, ainda afeta os que  na contemporaneidade afirmam meta narrativas fundadas no ideário de ruptura e transformação estrutural da sociedade a partir de certa traição de “esquerda”.

Considerando que Michels escreve em um momento anterior ao advento do socialismo real e do fenômeno peculiar do stalinismo, mesmo assim,  sua reflexão fornece preciosos subsídios a análise da cultura politica de esquerda em seus tantos desdobramentos e  variações ao longo do século XX.

Em linhas gerais, a critica de Michels ao regime representativo,  fundamentada na tese de que , em uma sociedade de massas, o jogo do poder tem como principio a hegemonia dos representantes sobre o representados goza de assombrosa atualidade. A própria delegação de poder legitima lideranças oligárquicas que, destacando-se das massas, passam a exercer esta representação em função de seus próprios interesses.

Nas palavras de Michels,
“Toda organização de partido representa uma potência oligárquica repousada sobre uma base democrática. Encontramos em toda parte eleitores e eleitos. Mas também encontramos em toda parte um  poder quase ilimitado dos eleitos sobre  as massas que os elegem. A estrutura oligárquica do  edifício  abafa o principio democrático fundamental.”

( Robert Michels. A sociologia dos Partidos Políticos. Brasilia: Editora da UNB. Trad.  Arthur Claudhon; ( coleção Pensamento Político Vol. 58), p. 238)

Se tal premissa estrutural e paradoxal ainda condiciona a cultura democrática ela adquiri, no caso brasileiro, uma dimensão impar para compreensão das patologias que assombram o modelo republicano ( corrupção endêmica e crise de representatividade) e da determinante influência da tradição autoritária e elitista da politica brasileira   sob a consolidação de uma institucionalidade e cultura democrática.


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